sábado, 28 de maio de 2011

Tanto de você




Ele voltou para casa dirigindo debaixo de um temporal. No rádio tocava 'Again', do Krevitz, e isso não fazia diferença até o momento em que ele ficara preso, junto a outros carros, em um congestionamento. Ele nunca foi também de observar a chuva - era apenas água caindo do céu, pensava. Naquele espaço de tempo, ele até se perguntou qual seria a temperatura daquela infinitude de líquido vertical, que caía nos vidros de seu carango. Mas esse questionamento fugiu-lhe à mente quando a música dela tocou. Ele apertou o minúsculo botão do pause. Tudo só não silenciara de uma vez só por conta dos pingos de chuva e pelas buzinas dos desesperados que aturdiam logo após a espessura dos vidros. Ele apertou o play. Tudo ainda estava tão longe de terminar: "Não sei porque você se foi...quantas saudades eu senti...e de tristezas vou viver...e aquele adeus não pude dar.." E ele se sentia culpado demais, errado demais, para acompanhar - com os dedos repousados no volante - a canção. Do momento em diante, o que ele não notava, nunca atribuía sentido e significância, passou a lhe ser tão útil quanto definitivo. Tim já não catava em vão: "e da solidão que em minha porta bate...". Desejando ou não, negando e renegando, mas a música lhe contava tanta coisa desses últimos dois anos. Das maneiras e das formas. Dos ditos e dos soletrados. Dos descritos e dos registrados. Falavam-lhe tanto. Aquelas palavras, como nenhuma outra situação em toda a sua existência, emanou como um veredito. Os versos seguintes doeram-lhe : "E na parede do meu quarto...ainda está o seu retrato". 

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