quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O menino de Brasília, Foucault e minha paixão repentina

Sempre gostei de pessoas inteligentes. Para enfantizar, sempre gostei de homens intelectuais. Eles, infelizmente, não andam em bandos. Não constituem uma fatia expressiva das marchas. Não se autodisseminam nas redes sociais (quando digo isso, é porque, provavelmente, nunca chegarão à categoria de #hastag). Porém, eles frequentam supermercados, praias e: ponto de ônibus! Pois é, é aqui que minha história começa.

Brasília, fevereiro de 2011, Rodoviária do Conjunto Nacional

Era a primeira vez que punha meus pés na Capital Federal. Minha estadia na cidade se dera em virtude a um congresso internacional de estudantes, que me garantiria uma semana fora de casa. Adoro viajar, conhecer novas culturas e desbravar lugares. E, em Brasília, não faria diferente - tendo em vista que, a organização do encontro, lamentável por sinal, me impulsionara a fazer aquilo que não costumo quando frequento eventos acadêmicos: faltar à programação. Certo. Em um desses dias, fomos passear pelo Conjunto Nacional - nosso intuito era apenas um: localizar, o quanto antes, as livrarias mais próximas e comprar rios de sacolas. Além de nos ludibriarmos com uma conta - e cota -  financeira imaginária, destinada apenas para os melhores títulos, quando víssemos estantes e vitrines. Passeio feito. Hora de voltar. 

Na Rodoviária, seguimos rumo ao ponto de ônibus no qual o trajeto incluía a UNB. Meus amigos continuaram a ver as lojinhas enquanto o ônibus não chegava. Foi então que um rapaz, alto, simpático, com pinta de estudante, surge próximo a mim. Em suas mãos, carregava A Ordem do Discurso, de MIchel Foucault. Pronto. [ só ouvi as asas de Cupido em algum lugar. essas coisas tinham de ser dele mesmo...Meses depois assistiria ao filme Rio e, descobriria que Lionel Ritchie poderia ter sido uma ótima trilha para esse momento.]


Eu parei. Pisquei os olhos. Sim, era Foucault. Um livrinho fininho, da Edições Loyola, de material reciclado. Sim, era A Ordem. Olhei em volta. Tratava-se de um fim de tarde, de expediente, de volta para a casa - ou para quadra do Tênis Clube de Brasília onde estava "instalada". Mas era daquelas cenas não imaginadas, sabe? Cenas "Surpresa!". Coisas que acontecem quando você já está desacreditada de tantas outras.
...

Aquele rapaz me encantou pelo simples motivo de preocupar-se em agregar valores, conhecimentos e leituras dignas em sua vida. "Sim, mas ele poderia estar lendo forçadamente...quem sabe?". É, poderia, mas se não fosse o simples fato de estar com o livro (aquele amontoado de páginas em uma capa singela) em mãos. Ele poderia ter compensado seu tempo lendo um resumo extraído da internet, concretizado em duas ou três páginas de papel sulfite. Mas ele não estava. E é interessante saber como os interesses surgem. De como as pessoas se tornam interessantes uma para com as outras. E essa questão de interesse poderia ser explicada pelo mesmo Foucault, se nós nos considerarmos uma parte do discurso de nossa sociedade, erguido sob a tríade interdição-separação-rejeição. Além de objeto de desejo, ocultador de desejo e manifestador do desejo. 

4 comentários:

  1. Hahaha consigo imaginar aquele momento do "para tudo": a câmera dá o close n'A Ordem e tu pensa "cadê que ninguém vê isso!".
    E pra mim o "Metaforize" concluiu BEM!

    P.S.: pelo que eu tva vendo esses dias, fuçando textos relacionados com minhas ideias e loucuras, acho que ainda vou encontrar com Foucault... só não sei se vou topar com A Ordem. Até lá, deve ter tem mto chão.

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  2. Selo de qualidade o/
    http://nada-ou-tudo-a-declarar.blogspot.com/2012/01/selo-thank-you-note.html

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  3. Rss... Essa Kleris... Esse Foucault é tudo de mais procurado. Mas eis que chega a roda vida, e carrega tudo pra lá. Meu selo de qualidade também.

    Ana Paula Avelar.

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  4. Um dos meus prediletos!
    De tempos em tempos volto aqui pra deleitar-me...

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