sábado, 26 de janeiro de 2013

' Te ver não é mais tão bacana como na semana passada'


Te ver não é mais tão bacana como na semana passada. Aconteceu. E você bem sabe, afinal, quem resolveu abandonar tudo. Não tenho mais nada com os seus pertences que insististes em deixar por lá para ver se eu ainda ligaria para você: favor, o moço da portaria ainda espera pela sua chegada dentro de 24 horas. Estou de mudança do seu mundo também. Não foi minha culpa se você teve medo de ficar: mamãe desde cedo me ensinou a matar baratinhas com meus chinelos de dedo. Hoje, se há algo de você em mim, é por mero incidente mesmo. As palavras da nossa história hoje fazem parte do mesmo epitáfio que a ela enfeita. Alguém bateu a porta, e agora não me envie mais notícias. 

Te ver não é mais tão bacana como na semana passada porque na semana passada ainda tínhamos mentiras e estas me arrancavam tantos sorrisos que achei que era amor, mas era inventado. Não me dê um abraço, não venha me apertar. Se despeça, de uma vez, à francesa. Saia ligeiro, sem fazer bagunça, sem derrubar minhas coisas também. Nem olhe para trás porque, se for para guardar a marca dos teus olhos, que seja um arquivo salvo do nosso primeiro grande encontro. Se meu falar parece despeitado, é despeito, sim: a literatura e as novelas de Maneco me ensinaram que amor-amar-amante nasceram para fazer de nós seres completos, devassadamente descompassados na imersão da nobreza do que é gostar de alguém - ninguém me avisou que espadaçalhar alguém é o mesmo que amar. Agora, devassadamente na imersão da tristeza do que é desgostar de alguém, te deixo na semana que acabou.

Te ver não é mais tão bacana como na semana passada porque na semana passada você chegou com suas malas aqui em casa, porque não se pensava em epitáfios, porque você matava as baratinhas, porque você cumprimentava o moço da portaria, porque você abria a porta, porque ainda tinha Maneco, porque você derrubava minhas coisas, porque eu me perdia no seu olhar. 

Hoje, te ver não é mais tão bacana como na semana passada, porque na semana passada eu ainda amava você. 

"E quando acaba a gente pensa
Que ele nunca existiu"