domingo, 29 de dezembro de 2013

Relato sem título

Eu não sei se isso é legal, sabe? mas eu sempre fui de me apaixonar. Acho que me apaixonei demais nessa vida – ou acho que. Mas, bem mais que me apaixonar pelo cara da balada ou pelo amigo que era da faculdade, eu me apaixonei pelas histórias que eles traziam. E isso, sim, acho que tem um “q” de paixão de verdade. 

Eu queria tanto fazer parte daquelas histórias, sabe? Queria ter um espacinho, ter um pouco de cena, fazer linhas e ser lembrada. Eu queria que aquelas histórias se unissem com a minha, entende? Porque eu acho que quando se gosta de alguém, se deve abraçar a bagagem desse alguém junto. Eu queria ter ficado. Daria tudo para ter ficado, e faria tudo outra vez, para tentar ter ficado. Não, não é carência. Nunca foi carência. É porque quando se gosta, se gosta, e  era“o começo do fim das nossas vidas”: aproveitaríamos. E eu queria ter tido o começo, primeiro; não o fim. Porque sempre acreditei nesses lances de amor...afinal de contas: o mundo só existe em virtude de um amor primeiro.

Quando eu estava de mãos dadas com minhas paixões eu quis histórias reais, não coisas do cinema. Minha vida não é um filme. Será. Ela ainda não acabou – eu ainda não morri. Efetivamente. Cada fim foi um recomeço e eu repeti a fita umas mil vezes aprendendo de verdade só duas partes dela. E mais duas na seguinte. E mais duas no que veio depois e assim por diante. Quando eu estava de mãos dadas com minhas paixões eu só queria bons amores: daqueles que apertam sem amarrar, aqueles que quebram copos, viram dias em silêncio, mas que oferecem colo, braço, perna e coração. E até lágrimas, caso fosse necessário. 

Eu queria amores que conversassem. Olho no olho. Mãos com mãos. “O meu cheiro no teu travesseiro”. O teu amor na minha saudade. A minha saudade no teu reencontro. O meu abraço na tua vida. A minha dor nos teus olhos. Minha felicidade na tua esperança. Queria amor desses normal. Que fazem companhia; que dizem que é hora de voltar, ir embora, chegar, correr, morrer. Queria um amor para ser aceito em paz com seus defeitos de fábrica, mas que me obrigasse a ler manuais. Ver palestras. Pedir ensinamentos. 

Mas nada deu certo até agora.  E meu amor não deixou saudade. 

Porque, na certeza de dias melhores, ainda não deu tempo dele chegar "nesse lugar que ninguém mais pisou".


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

"Vem que no caminho eu te explico."

Ao som de House of Shem, Think about you

Eu preciso confessar que esse medo que você tem em dar um passo “além-mar” às vezes me assusta. Mas não me detém.

Aos cinco anos de idade, quando meus pais me abandonaram para viajar pelo mundo e curtir seus últimos anos na  casa dos vinte, eu tive de me virar. Vovó era jovem, mas, mesmo assim, eu estava só e aos cinco anos eu me vi obrigado a ser homem 4 vezes mais.

Meus pais não estavam aqui quando aprendi a ler com proficiência; minha mãe não estava aqui para me ajudar quando meus dentes caíram; papai não me levou para o futebol e também não pude contar a ele minhas primeiras aventuras. Quando estava na casa dos dezessete, eles não comemoraram quando passei para a faculdade. Eu não tive o privilégio. Esse privilégio.

Tive outros – talvez mais intensos e mais reais, mesmo que difíceis.

Eu trabalhei cedo. Eu viajei por aí cedo. Conheci gente e fui conhecido também. Daí que nesse embalo da vida vivi situações mais íntimas e tive que tentar construir muita coisa em conjunto, sentir o gosto da derrota amorosa muitas outras vezes e querer tentar acertar em outras tantas. Eu me acostumei. Já faço parte deste organismo. Já rascunhei uma cartilha e não tenho medo em acrescentar novas informações e eliminar páginas.

Eu criei coragem com o tempo. Fui me tornando homem com vontade. E nessa vontade perdi o medo: o de viver, o de me entregar e o de proteger quem vier comigo. Acredito que isso seja fruto da rejeição do passado, do trauma, em partes, superado e da vontade enorme em ter uma história mais cuidadosa do que a que tive anos atrás.

Por isso eu espero você. Eu entendo você. E pretendo não te julgar. A única exigência que faço é: não solte a minha mão. Não me impeça de muita coisa, apenas confia em mim. Eu não sou o mesmo cara de cinco anos de idade. Não fica assustada, não entre em desconformes e não me tenha como inimigo. Apenas confia. E me deixa ser algo teu. Não precisa temer a vida, sei alguns macetes. Me segura forte e


"Vem que no caminho eu te explico."


segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A volta da saudade nossa de cada dia


Ao som de "All in all", Lifehouse


A nossa vida tinha cara de verdade, meu bem. De verdade crua. De verdade nua. De verdade estampada no varal. A nossa história teve cara de botão de rosa: cheiroso, charmoso, delicado e real. A nossa história tinha cara-sabor de fruta cristalizada, que lembrava o Natal frio do Sul. E o Natal frio do Sul lembrava as nossas palavras quentes. Deixa pra lá, vê se dorme quando essa parte da lembrança chegar.

Nossa história teve tinta fresca, sabonete floral, carpete antialérgico, sábado de cama, som de chuva e portas trancadas. Meu amor, as coisas mudaram e tudo se perdeu – na última estação do trem. A gente viajou cada um para o seu lado ao som do nada, porque não tínhamos nada mais para tocar, a não ser o nosso passo solitário. Eu fui embora. Você também foi. A gente se deixou. A gente se largou, essa é que foi a verdade.

Só não entramos no vagão do esquecimento. Esquecemos os bilhetes.

Deu pra perceber isso no bar, na semana passada. Passei por você; você me provocou com seu perfume, eu me sintonizei na tua harmonia, você cutucou o garçom, pediu uma bebida e cerrou os olhos: alguém nos viu nos vendo. E ficamos tímidos pelas nossas vergonhas. Nunca havíamos passado por isso – e, sobre as nossas vergonhas, o lixão a caminho da casa da sua tia, no lado oeste da cidade, ainda deve guardar aquela lata de nossa velha timidez.

Voltando ao bar, ao passo que nos olhamos, ficamos mais sóbrios do que quando havíamos entrado nele. E foi então que você me olhou de novo, eu retribuí. Eu cheguei mais perto, você me segurou pela cintura e acordamos três anos mais tarde:


isso porque a história que agora contei foi nosso momento 1. E o reflexo dessa nossa mania de acreditar que eu amo você e "eu amo você", você pra mim, de verdade, veio só no mais tarde:

 De uma verdade crua. De uma verdade nua. De uma verdade estampada no (novo) varal. 

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Eu queria ter nutrido aquela nossa amizade

Eu queria ter nutrido aquela nossa amizade.

Eu queria ter nutrido nosso pacto porque tinha cara de construção. E não de projetos. Daí se tivesse vodca? Daí se tivessem os meus e seus livros? Daí se havia uma volta no caminho? E duas? Daí se tivessem listas de pessoas, sacolas de despesas, garrafas vazias e Chico Buarque escondido no fim da prateleira? Mesmo assim nos valeria. Daí se houvesse um português errado - como esse meu agora? Ah...eu queria ter nutrido a nossa amizade. Ela me fazia sentir o gosto doce da vida e eu ganhava jujubas quando nos encontrávamos.

Amizades não devem ser jogadas fora porque são amizades, leia-se: parte "suficientemente-suficiente-grande" e cremosa de nós. Amizade é doar. Sem medo de tentar ser feliz, e, se não for, que seja uma ligação deveras interessante o bastante para que alguém tenha vontade de sentar e conversar em uma outra nova vez

Ser amigo é ir de novo. Voltar se precisar, pedir carona se certo for e pular do caminhão caso também seja conveniente. Que amizade seja ir à praia e pular as doze ondas. Que amizade seja viajar e perder-se no destino da rua da ladeira - a corrida é tão boa que não interessa onde a descida vai dar: vocês estão e estarão juntos quando a velocidade chegar ao fim. 

até o fim.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Pat Peoples poderia ser meu/seu melhor amigo

Talvez o Pat tenha os maiores problemas do mundo, problemas que eu e você talvez nunca tenhamos passado e que, provavelmente, depois de conhecer a história dele,rezará a todos os santos para não passar. Mas Pat, ex-professor, recentemente saído de uma clínica psiquiátrica, um cara de 30 anos que tem: mais de sete caixas de remédios para tomar duas ou três vezes ao dia; um pai que quando não está de lua, fala com ele; um irmão bem sucedido que se esforça para ser o irmão que foi um dia; um melhor amigo negro que também está no "lugar ruim"; um outro melhor amigo dos tempos antigos que tem uma esposa que o controla e controla a amizade dos dois. Uma mãe super dedicada; uma Nikki que é a causa de seus problemas e uma Tiffanny - que talvez seja a sua solução. 

Tem também o Eagles, time de futebol americano que o situa no mundo (ou facilita o processo) depois que ele sai do "lugar ruim".

E uma figura importante, chamada Kenny G, que vai tentar matá-lo várias vezes. 

Juntando todos, existirá uma meta: esconder de Pat o tempo real que ele ficara fora de suas vidas (foram anos, mas concretizar um tempo em uma escala é algo inviável a todos eles. Pat Peoples [ainda] não pode saber que passou mais de três anos tentando superar a internação, ocasionada pela infidelidade de  Nikki, em uma clínica psiquiátrica, acompanhado pelo doutor Patel). 

 eu sei que é de outro filme, mas isso não interessa]

Mas há algo que Pat Peoples enxerga melhor do que muita gente: o lado bom da vida. Sim, que ele tem "um descompasso psicológico", sim que ele corre todos os dias, incansavelmente, com um saco de lixo enfiado no corpo para poder perder gordura mais rapidamente, sim que ele faz isso para agradar a Nikki, sim que ele corre também todos os dias com a sua versão descompassada feminina - e ninfomaníaca, Tiffanny - mas nada disso faz com que Pat deixe de ser menos ser humano do que nós. E SIM, ele faz isso porque acredita que podemos e que existe algo de bom nesta vida; o lado bonito das coisas, a utopia que não é utopia, a realidade que é alcançável e subvertida por muito de nós.

Pat não é um louco desenfreado viciado em exercícios. Pat é uma pessoa que luta para ser alguém melhor, pelo simples fato de ter esperança que a vida pode ser boa. Sim, Pat poderia ser meu melhor amigo porque ele não ficaria no sofá da minha casa, apenas vendo Tv comigo, devorando um pote de sorvete depois de algum baque da vida. Se Pat fosse meu melhor amigo, talvez ele nem me chamasse para correr com ele e um saco preto ou azul de lixo, mas Peoples se esforçaria para ser uma pessoa legal pra mim, por achar que é importante, que me faria feliz, que seria muito positivo pra mim e no fim, eu estaria sorrindo e gostando de estar com ele. 

Pat acredita. Ele se esforça, sabe que, no fundo, é importante para alguém e o que ele almeja deveria ser almejado por todo mundo - mesmo sendo a sua ex-esposa, por quem ele tem um amor intenso, nutrido por uma triste ilusão de que ela o espera. Mas Nikki é o amor dele. E é isso que significa. Por esta razão segue em frente, mesmo em partes desmemoriado, segue para alcançar e (re) conquistar um lugar mais sólido, uma vida mais digna, sua independência, um amor e mais outras vitórias para o Eagles - porque, se eles venceram, o pai dele ficará de bom humor dias e dias. 

Em suma, Pat seria um bom amigo porque ele procura por verdades. Se ele procura as verdades da vida, nos faria um bem sendo transparente, sensível e verdadeiro. Um bom amigo, em outras palavras. Certamente, em acessos de raiva, ele não descontaria em você também: correria, faria suas séries de modo incontrolável, até sentir o sangue em seu peito "como se fosse lava". Estaria calmo. Estaria sendo sensato para com o mundo ao redor.

Pat é O lado bom da vida. 

Ah, e outra: Pat Peoples te ensinaria a lição do "superar" - inclusive de como sobreviver ao ataque de um Kenny G e outras intermitências - inclusive do sax de "Song birds".

segunda-feira, 29 de julho de 2013

A Paisagem


Texto de autoria da Thayrinne Yasmim.

Era uma vez um guerreiro antigo... espere! Por que “Era uma vez...” se esta história é tão atual e tão habitual? E por que guerreiro antigo se o personagem existe em nosso século? O fato é que todas as boas histórias começam com “Era uma vez...”, e que o leitor com o tempo vai perceber que guerreiros antigos existem em todas as épocas e que histórias como essa teimam em acontecer.
Retomando o fio da meada... Era uma vez um guerreiro antigo, que era antigo pela época em que viveu e não por sua idade; era jovem, forte e saudável. Em sua história, a experiência era grande, mas no coração daquele guerreiro tudo era ausência, saudade. Saudade do que ele nunca teve e do que ele nem ao menos conhecera.
Ele travava uma batalha a cada dia, vivia uma aventura de cada vez, subia em seu cavalo, vestia sua capa e estava preparado pro que vier, pra missão que recebesse. Mas quem disse que o coração daquele guerreiro era duro como sua armadura?
Aquele guerreiro, que a partir de agora vamos chamar de Miguel por ser este seu nome de batismo, havia acabado de vencer uma de suas mais históricas batalhas, lutara ele e seus companheiros de Ordem contra os morgadorianos em defesa da honra do rei D. Filipe II, um velho amigo da infância que teve. Ao fim da batalha que ficou conhecida como Guerra dos 30 dias em função de sua demora, Miguel e os demais cavaleiros foram convidados a comemorar e descansar no Castelo de D. Filipe.
(...)
D. Filipe na tentativa de agradar seus amigos ordenou que fossem trazidas várias mulheres para o seu divertimento. No entanto, nosso célebre guerreiro resolveu fugir um pouco das vozes e cantorias e viu-se a andar pela cidade, fascinado pela lua que naquele dia parecia brilhar mais que nunca. 
(...)
 Ao olhar ao redor, ele se deparou com um lugar de beleza inigualável, um lago com palmeiras altas que guardavam a lua entre elas, sua sombra refletida no espelho das águas e ao fundo o castelo com suas muitas torres iluminadas. Ali, sentada em uma pedra, uma mulher que, para ele, era a parte mais bela da paisagem.



O guerreiro não se aproximou, preferiu de longe admirar a cena por várias horas. As festas duraram quantos dias durou a batalha, durante todos aqueles dias Miguel se retirava do castelo e tomava o caminho daquela paisagem. Todos os dias ele a via, mas sentia-se de forma diferente a cada dia, muitas perguntas lhe vieram a cabeça e muitas vontades também. Por momentos aquela mulher da paisagem o olhava e quando seus olhares se encontravam tudo ao redor sumia: as luzes do castelo, o brilho da lua e sua sombra refletida, tudo desaparecia.
Não havia outras palavras para descrever aquele sentimento a não ser dizer que Miguel estava encantado, apaixonado. Um guerreiro apaixonado em meio a uma batalha desconhecida, onde não havia estratégias que lhe parecessem funcionar. “O que fazer? O que dizer?” Estava o guerreiro em uma teia de dúvidas, teia de sentimentos, mas os sentimentos não eram duvidosos. O que permanecia intacta era sua fé, aquele cavaleiro que sempre teve Deus por juiz sabia que ele lhe ajudaria dando a coragem e o discernimento que a situação exigiria.
No dia que resolvera agir aquele homem não cabia em si de medo e ansiedade no que estava por vir. Ao ver sua amada, as palavras de tão ensaiadas lhe fugiram. Mas o olhar, aquele olhar de apaixonado disse tudo. Naquele momento ele soube que mesmo sem palavras ela sentira o que ele sentira.
E de repente, ao tocar sua mão a sentiu estremecer, borboletas voavam pela sua barriga. Como era bom olhar naqueles olhos, sentir aquele toque e se sentir cheio; cheio de uma emoção que nunca sentiu nem em suas mais magníficas vitórias.
E enquanto aquela noite guardava o sol em forma de lua, permaneceram ali aqueles dois amantes sob o brilho radiante das estrelas. Das paixões que tivera aquele guerreiro nenhuma se assemelhou àquela. Olhares que enfeitiçavam, pequenos gestos que seduziam, corpos inquietos. Naquele momento, chamas de dois mundos transformaram-se em um só...
Quanto tempo passou não se sabe ao certo, mas a paisagem noturna continuou a se repetir. Miguel fez então àquela mulher uma única pergunta: “-Porque todas as noites você vem admirar a lua?”, ela respondeu que precisava sempre estar com a mente e o coração voltados para a luz e que agora já podia sair dali, pois sua luz agora era aquele guerreiro.
Ao andarem pela cidade vazia, as mãos unidas como se fossem uma só, Miguel resolveu parar e pegar pequenas rosas de um jardim qualquer para presentear aquela mulher; já não era mais noite, os primeiros raios de sol abrilhantavam o horizonte. Usou sua espada para cortar as rosas, entretanto, o orvalho molhou suas mãos e os afiados espinhos feriram seus dedos, mas o singelo presente foi dado e recebido de bom grado. Fazer surgir aquele lindo sorriso naquele rosto de mulher o fez sentir-se um homem realizado.
Já no castelo, Miguel foi chamado pelo mestre de sua Ordem e avisado que dali a algumas horas eles partiriam, pois uma nova batalha os esperava. Sempre tivera sido fiel a sua Ordem e a seus companheiros. O juramento de fidelidade feito quando menino não fora esquecido. Miguel pensou naquela mulher e mesmo tendo que deixar parte de seu coração naquela pequena cidade, não poderia abandonar a Ordem, cumpriria seu dever como guerreiro e protetor do povo. Levaria, entretanto, em seu coração e em sua cabeça aquela mulher, o amor que ele nunca tinha conhecido e que agora lhe parecia claro como a água daquela paisagem que também jamais esqueceria.
O fato é que Miguel provavelmente jamais voltaria àquela cidade e que se um dia voltasse nunca seria para ficar. Era um guerreiro andante, sua vida era batalhar, defender, até que um dia a morte o levasse. Caso retornasse um dia, aquela linda mulher por quem ele se apaixonara teria então outra paixão, e ele também teria outras pelo caminho, mesmo que incomparáveis.
Ambos sabiam, havia chegado a hora de dizer Adeus. O tempo que  se passou certamente não seria esquecido; cada momento agradável ao lado de quem se ama é eterno, assim como a história que se agrega à vida de cada um dos amantes. Muitas histórias formam a história da vida de uma pessoa, e muitas histórias de vida formam a história da sociedade. Você tem que deixar algo seu para o mundo, mas pra isso é preciso força de vontade, é certo e fácil entender: O que se faz na vida ecoa na eternidade!
FIM

Sim, caro leitor, lamento decepcioná-lo, mas esta não é uma história de amor eterno, pois amores eternos não são atuais e muito menos habituais, amores eternos não existem. Histórias, porém, existem, são eternas e todo mundo as tem. Apesar da distância entre os tempos modernos e a sociedade medieval, hoje ainda se cruzam estes mesmo amados e amantes, em diferentes cenários, mas ainda os mesmos. A vida continua gostando de brincar com os corações e a lua continua sendo a testemunha dos amores. Na história sempre ficará as figuras de romances em que se fazem presentes as maravilhas do amor e a dureza e imprevisibilidade do destino. 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Todo mundo merece um café forte. Bem forte.


Ao som de Free Fallin, John Mayer.

Hoje eu acordei e pedi um café bem forte pro Medina na padaria. Como que numa epifania, me dei conta que hoje faríamos 5 anos - caso estivéssemos juntos. Meio que não obstante abri a gaveta da franquia do nosso filme, daquilo que a gente chamou de rolo, namoro e quase casamento. 

Entre um gole e outro, a cafeína foi descendo cada vez mais forte. Medina me olhava como se eu estivesse empurrando um café muito doce e estivesse desfrutando de cada grama de açúcar como se fosse uma formiga: com prazer. E ele tinha razão. Estava. 

A gente demora muito a entender o sentido da expressão "deu certo". E a segunda parte dela "até certo ponto". Diversas vezes eu julguei que a gente não se merecia, que tudo só deu errado, que nada era para ter acontecido. Inocência e ansiedade minha, oras. Nada a ver com a realidade. 

Toda a nossa vida deu certo. Todas as viagens, todas as brigas, os enlaces, as noites de conchinha. Até que na noite de 25 de Maio de 2012 a gente resolveu se separar: porque a chama simplesmente tinha acabado, algumas situações sem sal surgiram e descobrimos que viver  a dois, nós dois no caso, já não tinha mais brilho. A realidade desfilava na nossa frente e a gente resolveu partir para a inteligência mesmo e aceitar o convite de cada um pegar o seu bonde.

Na manhã seguinte da nossa separação você passou lá em casa para pegar suas coisas e colocá-las no carro. Eu tinha aula no curso de História da Arte, você precisava viajar para a Itália a trabalho em quatro horas. Parecia que tudo tinha se encaixado. Na verdade estava escrito e a gente só seguiu o script como duas pessoas normais e obedientes - e metódicas. Nesta mesma manhã já não éramos um casal de 4 anos e uns meses. Éramos eu e você - duas pessoas recém separadas. Nesta  mesma manhã  estávamos com fome e resolvemos passar no Medina - já para criar saudade. Pedimos um expresso daqueles: bem quente, com leite, fumaça e forte.

Depois da cafeína em alto grau e atravessando a porta do bar, já tínhamos a certeza de tudo: era nossa última primeira refeição do dia juntos. Mais  forte que o café, mais forte do que a  cafeína, era a certeza de que naquela manhã estávamos fazendo a coisa certa. 

Da mesma maneira como faço todos os dias como se ainda fôssemos um fazendo companhia ao outro: pedindo o mesmo café ao Medina. Só que agora para despertar.



sexta-feira, 5 de julho de 2013

O que "Penny Lane" teve a ver com a nossa vida

Ao som de Penny Lane

Então que Penny Lane nos marcou. Tivemos uma devoção cíclica por ela e, apesar dos pesares, ela sempre nos representará. Lembrei de nossas passeatas com Penny outro dia, ao arrumar minha estante. Uma caixa esquecida no fim da parte superior veio desabando lentamente sobre minha cabeça. Em meio ao chão, fotos, coleções. cassetes e recordações, bati o olho: nossa primeira foto, tirada numa rua boêmia, contemplativa de nossas artes e palco, por diversas vezes, de nosso ex-amor. 


Daí que Penny Lane me fez "te lembrar". E a linha tênue entre o passado e o presente surgiu como que em um passe de mágica. Nosso ex-amor fora contemplado, cortejado e admirado. Tomou conta de muitas cabeças - muitas cabeças que tiveram o prazer de nos conhecer. Me fez lembrar também o quanto bacana foi e bacana será nossa história. 

A vinda de Penny Lane para nossa vida deu-se no verão de 99, quando você ainda era só minha amiga, e em uma roda com meus outros tantos amigos, trocamos olhares solitários (e que nos lembravam os olhos de outra Beatle, a Lucy), quando resolvemos juntos cantar o refrão. Nossos olhinhos de caleidoscópio não negavam: Penny Lane havia nos apaixonado

Foi aí que resolvemos subi-la de patente: virou nossa love song. De lá para as andanças seguintes, foi aquela música de abertura da novela das 8 (porque, convenhamos, nosso ex-amor foi quase uma novela, nem tanto mexicana, mas se formos escrevê-lo, saiba, ficaremos ricos) e a trilha dos créditos do filme da última sessão do cinema. Viramos esquinas, fizemos amor, quebramos dois pratos e 4 canecas. E registramos nosso caminhar sob suas notas.
Penny lane is in my ears and in my eyes
There beneath the blue suburban skies
I sit and meanwhile back
Adoecemos, nos desentendemos, mensuramos tudo e chegamos à conclusão que precisávamos parar. E paramos. E parou. O que Penny Lane teve a ver com a gente é que assim como na canção, tudo tende a acontecer e se renovar ou, simplesmente, de desfazer, ou mais ainda, fazer parte de uma natureza comum. E isso se chama "vida". E e na vida existem poucas certezas. 

Em Penny Lane sempre existirá um banqueiro, um barbeiro, uma rua movimentada. Em nossa vida sempre haverá "algo para acontecer", mas assim como o barbeiro que tinha inúmeras fotos de pessoas que por ele passaram, sempre haverá algo novo a vir. E desconhecido exigindo aceitação.

"Sim" que nossa história foi um dia nova. "Sim" que um dia a gente se fez um par. Mas, sei também que a vida pode trazer boas novas, a mim e a você. E sejamos gratos e felizes por isso. Que sejamos gratos e felizes por tudo. Pois...

"...e daí que como todas as boas músicas, 
todas as boas histórias de amor são eternas. 
O som acaba e a mensagem continua". 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Arrume a casa (Ou como perder o jantar em um passo).


Lar doce lar. Ponto. E há algo de errado quando se tem muita bagunça na sala, na pia da cozinha, no jardim, em cima da cama e debaixo do sofá. Há algo de errado quando não mais se encontra uma diarista aos domingos - afinal, há filhos de Deus em todos os cantos e domingo é dia santo e se tem missa antes do jantar.

Pausa. Eu a-ci-den-tal-men-te disse "jantar". O que você perdeu, vai perder daqui a pouco e que amanhã, bem provavelmente, também não terá. Não terá porque você detesta "refeicionar" sozinho e a última visita que se propôs compartilhar com você, você não deixou chegar.

Jantar? Visita? Não deixei chegar? #perdiofiodameada

Perdeu o fio do sensível - talvez esteja depositado no jarro laranja, no canto esquerdo da entrada da casa. Deixou a carta da felicidade na caixa de correios e bateu a porta. Bateu a porta porque "diz-que" precisava sentar no sofá e ver TV. Não somente sentou-se no sofá, como também fez dele sua penúltima morada. A vizinhança nunca mais te viu, o Seu Mário, do outro lado da rua, nunca mais convidou você para pescar e a D. Gilda, te desadotou. 

E o que você ganhou com seu sofá? A casa: nunca mais arrumada. Os móveis: empoeirados. A garagem: o matinho do jardim já anda invadindo. Uma vida em acúmulos e um convite recusado para a refeição da noite. Casa bagunçada, caro leitor, é casa sem "ter pra quê". Casa bagunçada, doce leitor, é para não se chegar perto. Casa bagunçada não é para perder um jantar, mas, sim, jantares. Em um passo. 

Aquele que não nos tira do sofá e deixa um lugar para Newton.
E uma visita do lado de fora.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

"Marina, morena, Marina...Você se pintou..."

"Então me diga quantas vidas você tem?"
Ao som de "Quantas vidas você tem", Paulinho Moska

Para quê  uma piscina, se podes o mar?

Moça, "deixe meu último pedido para trás", e vamos falar um pouco de você. Há muito venho a perceber-te e conclui, para minha desbotada desilusão: não estás nem aqui, nem lá. Não descobriste ainda se ficas, se permanece ou se vai embora. Onde, afinal, queres estar. Ao passo que tentas revelar-te, seres mais notável, torna-te passível de você mesma. És teu núcleo e isso é uma questão que merece ser revista. Há perigo na contramão. 

Pergunto quantas vidas tens porque pareces ser um polvo, e, ao mesmo tempo, não consegues chegar para perto de si. Até te conheces, mas não te sentes. Veja bem: você sabe que a pele do Paulinho é negra, mas és, ainda, incapaz de senti-la. Vitimizas. E isso não lhe parece estranho?

"eu olho para o infinito e você de óculos escuros"
Aceito suas escolhas, mas deixo claro: não dá para entendê-las, apenas agregá-las a uma série de situações/definições/contradições/especulações nada construtivas. Tem alguém que precisa alinhar todos os sóis do planeta, para que a vida venha a fluir. Direi que o espelho andas a atrapalhar-te, moça. Deixo claro que acredito que estás a complicar tudo, a girar o mundo em tua órbita e, quando tudo ganha força, somes: ou vá ou fique. 

Boa parte de nossa má sorte e de nosso descontentamento saem do armário do nosso quarto. Nem todos nesta vida gostam de bagunça, porque, atrativamente, a bagunça não oferece um achado na primeira tomada. Cuidado, arrumar o quarto depois que já se conhece é mais fácil. "Marina, morena, Marina, você se pintou" de todas as cores; ficou confuso, menina. Ficou confuso...Não que queiramos que sejas unicolor, mas não necessitavas explodir tanto assim. A vida vai te perceber na transparência. Talvez alegues que este seja teu modo, mas "Marina, morena, Marina, você se pintou" de modo compulsivo que a gente não consegue te encontrar.  Um jeito que você não se consegue. 

"Marina, morena, Marina, você se pintou", e sobrou tinta. Tintas de você.

sábado, 11 de maio de 2013

Rodapé, fonte 5. Para quietar.




" É melhor ser rei do teu silêncio...
    ... do que escravo de tuas palavras".

E é sobre a quem contar as tuas palavras. E é sobre a quem dizer teu discurso. E é sobre a quem referenciar tuas entrelinhas. E é sobre a quem entregar teu livro.

Isso porque o silêncio ainda pode nos levar não mais à loucura, mas sim ao topo do barulho. E as nossas palavras podem nos pregar belas peças se lançadas pelas mãos alheias. Voltar aos farrapos virão. Nada do que foi será como antes e o antes planejado foi desfeito por quem não sonhara os teus sonhos. Ah, foi só porque eu quis dividir...mas aprenda a lição: sonhos não foram feitos para serem divididos, mas, talvez, para ser emendados a outros sonhos...depois que um torna-se real. Mas só depois de um tornar-se é que a vida ganha tino. E as palavras viram árvores a serem cuidadas, podadas e frutíferas. Acredite no dúbio lado da vida e das pessoas...cuide da alma, do espírito e das palavras. Trabalhe o silêncio....cuide do espírito, da alma e das palavras...porque neste mundo o mais ingênuo e o mais cruel são extremos, e extremos chamam atenção e atenção incomoda e atrai. E não vou falar da felicidade porque esta deve ser obrigatoriamente clandestina. Clandestinamente particular. 

Que o nosso corpo, nossos olhos, nossos ouvidos
e nossos lábios tornem-se, 
 túmulos.

segunda-feira, 4 de março de 2013

“I am a Superman thanks to Lois Lane”




Love stories são os tipos de história que eu gosto. São do tipo de história que me fazem brilhar os olhos, pular de alegria e/ou quando quase dão certo, me impulsionam a querer respirar fundo e seguir em frente. Mas hoje eu quero falar de histórias de amor que nos fazem bem: a pele, os olhos, os lábios e o coração. Porque, simplesmente, histórias de amor nasceram para serem vividas. E bem vividas. Intensamente.

 Então deixa eu te contar mais uma.

O amor tem dessas de se encontrar pelo meio da página, e nos livrar da possível desistência em relação se devemos ou não devemos prosseguir até a última linha, página 460. O amor tem dessas coisas de resgate, meio Superman. O amor tem meio dessas coisas de abraçar com muito querer, meio Lois Lane. E de um começo que talvez só comece no rodapé da página 461. 

Be my mirror, my sword and shield
Começar na página 'quatro-meia-um' requer força. Usar somente capas, usar somente poderes, usar somente telepatia, não cabe. O que encaixa é a vontade de escrever uma nova página, talvez se entregar ao clichê, talvez dar uma inovada, mas certamente corresponde ao querer saltar da janela do mais alto prédio da cidade. Vejamos que medo de altura não pode haver: ou se joga, ou se desce pela escada - mas sem um "incêndio", provavelmente não será a mesma coisa. 

Em meio a estes parágrafos eu já comecei a minha história. É até um pouco difícil de contar porque não passo de um mero narrador-observador da esquina ao lado - contente, a frisar. Vi o casal virando a esquina dos desafios, que termina no fim da ladeira, em curva para o por-do-sol. Foi muito bom ver o bailar de mãos e de sorrisos. Fluiu. Fluiu devagar, ao pouquinhos, no tempo certo, como tudo deveria ser. NASCEU. 

Há um Superman para uma Lois Lane porque o que falo aqui é sobre novos caminhos. O que falo aqui é da vontade de proteger e ser protegido, é da vontade de caminhar sempre sem pedir para mostrar a fuga, mas sim para ir junto Quando falo da Lois e do Super, falo do grande salto que é amar: não é só pela adrenalina, é, essencialmente, pela vontade de vencer, como os grandes heróis - seja lá o que vier. 


sábado, 26 de janeiro de 2013

' Te ver não é mais tão bacana como na semana passada'


Te ver não é mais tão bacana como na semana passada. Aconteceu. E você bem sabe, afinal, quem resolveu abandonar tudo. Não tenho mais nada com os seus pertences que insististes em deixar por lá para ver se eu ainda ligaria para você: favor, o moço da portaria ainda espera pela sua chegada dentro de 24 horas. Estou de mudança do seu mundo também. Não foi minha culpa se você teve medo de ficar: mamãe desde cedo me ensinou a matar baratinhas com meus chinelos de dedo. Hoje, se há algo de você em mim, é por mero incidente mesmo. As palavras da nossa história hoje fazem parte do mesmo epitáfio que a ela enfeita. Alguém bateu a porta, e agora não me envie mais notícias. 

Te ver não é mais tão bacana como na semana passada porque na semana passada ainda tínhamos mentiras e estas me arrancavam tantos sorrisos que achei que era amor, mas era inventado. Não me dê um abraço, não venha me apertar. Se despeça, de uma vez, à francesa. Saia ligeiro, sem fazer bagunça, sem derrubar minhas coisas também. Nem olhe para trás porque, se for para guardar a marca dos teus olhos, que seja um arquivo salvo do nosso primeiro grande encontro. Se meu falar parece despeitado, é despeito, sim: a literatura e as novelas de Maneco me ensinaram que amor-amar-amante nasceram para fazer de nós seres completos, devassadamente descompassados na imersão da nobreza do que é gostar de alguém - ninguém me avisou que espadaçalhar alguém é o mesmo que amar. Agora, devassadamente na imersão da tristeza do que é desgostar de alguém, te deixo na semana que acabou.

Te ver não é mais tão bacana como na semana passada porque na semana passada você chegou com suas malas aqui em casa, porque não se pensava em epitáfios, porque você matava as baratinhas, porque você cumprimentava o moço da portaria, porque você abria a porta, porque ainda tinha Maneco, porque você derrubava minhas coisas, porque eu me perdia no seu olhar. 

Hoje, te ver não é mais tão bacana como na semana passada, porque na semana passada eu ainda amava você. 

"E quando acaba a gente pensa
Que ele nunca existiu"