segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A volta da saudade nossa de cada dia


Ao som de "All in all", Lifehouse


A nossa vida tinha cara de verdade, meu bem. De verdade crua. De verdade nua. De verdade estampada no varal. A nossa história teve cara de botão de rosa: cheiroso, charmoso, delicado e real. A nossa história tinha cara-sabor de fruta cristalizada, que lembrava o Natal frio do Sul. E o Natal frio do Sul lembrava as nossas palavras quentes. Deixa pra lá, vê se dorme quando essa parte da lembrança chegar.

Nossa história teve tinta fresca, sabonete floral, carpete antialérgico, sábado de cama, som de chuva e portas trancadas. Meu amor, as coisas mudaram e tudo se perdeu – na última estação do trem. A gente viajou cada um para o seu lado ao som do nada, porque não tínhamos nada mais para tocar, a não ser o nosso passo solitário. Eu fui embora. Você também foi. A gente se deixou. A gente se largou, essa é que foi a verdade.

Só não entramos no vagão do esquecimento. Esquecemos os bilhetes.

Deu pra perceber isso no bar, na semana passada. Passei por você; você me provocou com seu perfume, eu me sintonizei na tua harmonia, você cutucou o garçom, pediu uma bebida e cerrou os olhos: alguém nos viu nos vendo. E ficamos tímidos pelas nossas vergonhas. Nunca havíamos passado por isso – e, sobre as nossas vergonhas, o lixão a caminho da casa da sua tia, no lado oeste da cidade, ainda deve guardar aquela lata de nossa velha timidez.

Voltando ao bar, ao passo que nos olhamos, ficamos mais sóbrios do que quando havíamos entrado nele. E foi então que você me olhou de novo, eu retribuí. Eu cheguei mais perto, você me segurou pela cintura e acordamos três anos mais tarde:


isso porque a história que agora contei foi nosso momento 1. E o reflexo dessa nossa mania de acreditar que eu amo você e "eu amo você", você pra mim, de verdade, veio só no mais tarde:

 De uma verdade crua. De uma verdade nua. De uma verdade estampada no (novo) varal. 

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