domingo, 31 de julho de 2011

Os segredos que eu ainda quero ter

 
Hoje, refletindo o passado, fiquei sóbria. Não pude lembrar das palavras exatas que emanei, mas, na volta, consegui me sentir um pouco mais real e, por conseguinte, vi tudo o que passou com um pouco mais de luz. Certo. Senti a falta de educação. A idiotice de menina ocasionada por uma convidativa licença nada primorosa da vaidade levou-me a guardar tudo embaixo da cama. Fui abarrotada pela vergonha e por outra lasciva falta de segredos. Achei incrível tudo isso, sabe? Eu acho que, pela primeira vez, verdadeiramente, senti falta de mim, de uma caixinha acolchoada,de uma latinha musical, de uma noite secreta na minha cama - onde os encostos são mais quentes. E eu senti..tudo devagar...meio como um filme com legenda. Preto-e-branco. Só para voltar a ter de novo - ou a ter aquilo que nunca tive: segredos para contar pra mim.

sábado, 30 de julho de 2011

"Eu quero te mostrar os lugares que encontrei....Eu quero te contar as histórias que ouvi..."


Se meus mais recentes vinte anos não me falharem a memória, nos seguintes vintes anos, eu estarei pronta. Ter completado duas décadas soou diferente. Soou estridente. Soou como a parte 2 de um livro  - felicidade tamanha que, "esquisitalmente", não me coube. Primeiro porque, para minha pouca idade, já pude conquistar uma singela lista de objetivos. Para minha pequena protuberância cronológica, já vivi situações singulares, razões pelas quais herdei máximas íntimas, abri espaço para anseios de menina e os prolegômenos de um futuro ensaio de mulher. Das coisas que eu gostaria de contar....das coisas que eu gostaria de contar (pausa para conversa dialogada com meu pretérito remoto)....nossa...talvez para almas "vestidas" tais coisas não se fazem eloquentes. Me despi em muitos estágios para que as mesmas pudessem ser apreendidas por mim. E por consequência, eis a razão pela qual tenho tanto a contar. Lições gradativas; teste de paciência; rapsódias intermináveis; releituras rabiscadas. E outros "porvires". Os lugares que eu conheci perpassaram do ínfimo ao complexo, do popular ao rebuscado, do simples ao composto: e guardei tudo em paradigmas preciosos. Depois da insistência do destino, indas e vindas versificadas, um coração deveras borbulhado, uma caminhada atribulada, companhias solitárias, resolvi buscar lugares e mais histórias tirando partindo de mim. É estranhamente agradável tirar partido de você mesma. Colocar--se como objeto de análise, de correspondência e de adição. Se seguir por dentro, lançando-se por fora. Não é um "trote" que você passa a si mesmo, muito menos a licença a ser dada a um possível egoísmo. É uma cordialidade mais que espacial, nada limítrofe. A noite de ontem, o dia de amanhã, a semana passada, a menina que encontrei, a briga que ouvi, as lições que tirei, o sabor do beijo que se foi, a palavra do rodapé do livro, o trechinho da música, a flor que eu vi, a cachoeira que banhei, a filme que não vi, o amigo que deixei, o romance que acabou, o sorriso de alegria, aquela visita, a tua boca, nossa viagem...Tudo encostando assim, pedindo pra ficar, entende? 

"Me deixe cavalgar
Nos seus desatinos
Nas revoadas
Redemoinhos"

terça-feira, 19 de julho de 2011

Maneiras de não saber dizer


"[...] mais je ne sais pas dire je t'aime...
pero yo no se hablar te amo, te amo...
But i don´t know how to say i love you..."

segunda-feira, 18 de julho de 2011

"Vamos ser outra vez nós dois"



Ok, Camilla. Eu estou com ódio de você. Quem mandou você aparecer assim, na minha vida? Cadê a autorização que lhe deu o direito de mudar minha rotina, meus pensamentos e minha desorganização vitalícia? Muito bem, Camila. O que vocÊ tem que as outras do meu passado - bem passado - não tiveram, garota? Onde estão minhas baboseiras, meus pequenos lixos e todo os demais figurantes da minha rua? Camila, já podes devolver meu quarto? E minha cama, já podes também? Camila, cadê mesmo meu espírito, sua bruxa? Ahhh...devolva, por gentileza, o toque masculino que eu tinha na minha casa. Espera bem aí. Não, Camila, não é isso que quero te falar...Camila, poxa...pra quê tudo isso? Por que tantos desaparecimentos repentinos-catastróficos? Camila....'vamos ser outra vez nós dois? Só mais essa vez? Cá, volta e devolve nossa vida...Volta Camila, volta e te devolve..te devolve pra mim?


Bem pra mim.

Das maneiras e das formas


Eu nunca aprendi a escrever cartas de amor - se nem mesmo lista de supermercados eu sei fazer. Mas tudo certo, tudo bem e talvez tudo venha a ficar legal depois de alguns rabiscos. Amor. Outro dia mesmo me dei conta que esta palavra entrou no meu vocabulário - e bem, se não matei minhas aulas de Português, tal termo corresponde a um substantivo e você, amor, tens significado muito mais que um simples adjetivo. Como já disse, sou meio desajeitado para as palavras - mesmo assim, vou dar uma persistida. Tem algo aqui...desde o dia em que nos conhecemos, que vem me...me...apertando, sabe? Mas é um aperto que não dói, entende? É um sentimento bom...que me deixa feliz e que me faz querer você. Ouvi rumores que isso é paixão. Não sei muito bem, antes de tudo isso acontecer, a única coisa que eu sentia era vontade. Mas com você é diferente. É estranho. É cômodo. É confortável....É sério. Eu pensava que esse negócio de paixão fosse folclore; era coisa de que se imaginava...e não se sentia...invenção. Já vi que me enganei. Minha felicidade maior é que posso estar vivo para comprová-la. Suficientemente bem acompanhado tem andado meu coração. E o flagra maior é que me peguei amando. Te amando, para ser bem claro.

sábado, 16 de julho de 2011

Meu endereço






["Enquanto me tiver
Que eu seja
O último e o primeiro
E quando eu te encontrar
Meu grande amor
Me reconheça..."

["desde o fim 
até o começo"]

"Sobre mãos, bocas e perfumes..."

Sabe, Júlia....voltei outro dia do trabalho me encontrando em um pedaço de você: era uma música, meio antiguinha, mas que fez parte de nossas vidas - e, na boa, sempre vai fazer...vamos admitir. Foi engraçado porque ela dizia quase extamente, em puro resumo, aquilo que fui catando de você esta semana inteira. Incrível! Destrinchou na melodia minha saudade, Ju. Tua falta tava ali. Por onde andas??? Júlia, Júlia, Júlia....por qual razão embalaste minha felicidade e a despachaste para sabe Deus! onde, pequena criatura??? Júlia, tua letra ainda está na minha agenda, em um francês de quinta, que vistes na tevê: "Jetaime". Júlia, onde estão teus passos? Percebi que da última vez teu beijo teve gosto de...de...amor. Eu quebrei tudo que tinhas me entregue (em um antes que nunca deveria ter me ido).....De que me importariam? Eles não te trarão de volta. Logo embora voltares, já tereis arremessado ao vento, talvez, aquilo tudo que aprendi..e, no correr das horas, fiz questão de desaprender. Logo agora, Júlia, que tinha descoberto um pouco "sobre mãos, bocas e perfumes...", só para te contar meu amor, só para te contar....




O que eu fui procurar há algum tempo atrás, já pensei em guardar na gaveta II

Continuação do post do dia 11 - presente do meu querido Antônio Sodré. Meus agradecimentos silenciosos [as palavras escaparam-me....talvez tenham ido te encontrar... }

"Eu que encontrei em você o que há algum tempo já havia pensado em esquecer ou deixar que o tempo o torna-se fluido, liquefeito; eu que já havia tentado mais do mesmo, que me encontrei em uma esquina tantas vezes, em uma estranha esquina ou rua chamada desejo; eu que pensei ser você, que sonhei, imaginei, ludibriei meu espírito... Eu que sorria sozinho, que escrevia cartas para alguém, talvez... era você em quem acreditei. Eu vivi nosso sonho no presente, no passado e no futuro espero viver da maneira que assim deva ser, contigo, sem mim, nós dois, deixarei acontecer... quero que aconteça... Mas tudo ainda é tão platônico, uma alusão, um amor imaginário, faz-de-conta que criei..."

"Deus, por favor, apareça na televisão..."  

Deixe a luz dos meus olhos encontrar os seus.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Um nosso muito íntimo que chega a ser teu também

[ouça enquanto estiver lendo]
Quando eu era criança, meus pais me diziam que "quando um burro fala, os outros murcham a orelha". Reforçavam "em conversa de adultos, criança não se mete"; "bata antes de entrar"; "fale baixo quando estiver conversando"; "espere sua vez na fila...não passe 'por cima' das pessoas"; "não fale de boca cheia"; e a MAIOR de todas elas: "não mexa nas coisas dos outros"! Pois muito bem. Cresci com todas essas orientações - confesso que subverti algumas, mas, em suma, as compreendi por completo. Mas, qual é a verdadeira essência disso tudo? R: RESPEITO. Retomando "Não mexa nas coisas dos outros", falemos por conseguinte de amor. 

NÃO MEXA NO AMOR DOS OUTROS!
(quando cresci, o conselho foi parafraseado para este)

Nossa poética sociedade tem se perdido no que diz respeito à vida. Quando chega no capítulo amoroso, já é celeuma. Assim sendo, os últimos desacertos de nossa história estão relacionados à opção (opção?) sexual de cada um. Gays, lébicas, transexuais, travestis ou qualquer outro ser humano NO gênero são reduzidos a um exame de balística: corpos sem expressão, frios, sem vida e com o CORAÇÃO PARADO. Como é humanidade??? Eu não escolhi nascer menina, meu ex-namorado não escolheu nascer homem, meu amigo não escolheu nascer gay e minha prima não escolheu nascer lésbica. Mamãe e papai pediram apenas que eu viesse ao mundo....e pediram com AMOR. Sou um ser vivo, tenho sentimentos. Meu amigo gay é lindo e tem setimentos; minha prima é mãe, e tem sentimentos; meu ex-namorado é fofo, e tem sentimentos. Você escolheu nascer QUEM vocé é? Eu penso que não. Então, qual a razão do MEU AMOR SER MAIS VERDADEIRO E MAIS CORRETO do que o amor existente entre amantes do mesmo sexo? Fala pra mim...me convença!!!!!!!! Me convença que sou mais forte, mais amorosa e mais humana que eles! Vamos, me convença!!!! Prova pra mim, prova que eles não têm direito de amar; que eles são de outro planeta; que eles são perigosos! Prova pra mim...eu quero saber. Eu tenho pena dos homofóbicos, eles sim, talvez não saibam amar. E o amor é um sentimento tão...tão...SUPERIOR, sabe? Tenho pena dos heteros que não se entregam para amar...[estão a perder o sublime]. Quando você nasce, você tem alma. Quando o amor bate, é porque almas se encontraram, sem querer. Meu amigo e minha prima são homossexuais, seres humanos e, detentores de alma - assim como você, leitor. Eu preciso falar mais alguma coisa? [já imaginou: sua alma poderia pertencer a um outro corpo, neste exato momento]


terça-feira, 12 de julho de 2011

"Em uma noite especialmente boa..."

Os cacos de muitas histórias resolvidas e deixadas pela metade estavam espalhados pelos cantos. Em meio tempo de vida, ela não apreendera a ser muito estrategista. Deixava-se levar pelo fluxo contínuo de suas escolhas. No passaredo de uma história, descobriu o que era carne, o que era queda, o valor das palavras e as mais diversas teorias que circundam um ato. Ela não sabia nada de Física, porém, já tinha percebido que dois corpos só se atraem quando ambas as matérias emanam algo. Passado os prolegômenos, solicitou seus ouvidos para uma boa música - o bom gosto lhe era crucial. Desacostumou-se ao simpático; já buscava o difícil, o complexo e o inteligível. Aprendeu com o espaço, não pedir para voltar; a dizer adeus e não olhar de soslaio. Descobriu também que palavras têm tamanho, formigas tem coração e que a árvore do vizinho da frente pode lhe ser útil. Insistiu na descoberta ainda do frio do chão, do calor das fagulhas e da morbidez que uma saudade é capaz de trazer. Ela cresceu usando e abusando dos saltos coloridos que guardava na última gaveta do armário. Ela "emulherou-se" com o espelho que pôs no quarto - um espelho sempre pode te contar o verossímil. E ela quis contar a verdade.


segunda-feira, 11 de julho de 2011

O que eu fui procurar há algum tempo atrás, já pensei em guardar na gaveta.

É, meu amor, o que eu espero relembrar, daqui a alguns anos, é o todo quanto que eu te amei - passado, presente e futuro. Guardei as palhetas daquela love song que estourou no rádio, na manhã passada: você estava todo dito e todo desenhado nas entrelinhas. Pasmei pelo último bilhete deixado no balcão da cozinha: escrito à mão, caneta vermelha, letra bonita, quatro linhas e nada para contar - nada que eu não pudesse já ter me certificado, mas, confesso, (re)editado por você, é sempre uma novidade. Para quem chegou verde na história, até que estou bem. Já sei até fazer waffle com sorvetes, para o fim do dia. Já sei separar seus livros pelo tamanho e sei quando você quer ir dormir. 

Escrevo pra você sem parar, eu sei. Eu te amo sem existires, já sabes disso?


domingo, 10 de julho de 2011

A menina do perfume

Outro dia, estava eu a correr para o trabalho, em mais um de meus atrasos. Saltei do segundo ônibus, no Terminal de Integração, rumo ao terceiro coletivo. Porém, precisei dar uma passada rápida no banheiro para uma eventual troca de blusas. Ok. Ao adentrar o recinto, deparei-me com uma menininha: aparentava ter uns sete anos de idade; magrinha, possivelmente moradora de rua e que, entre as pequenas e inocentes mãos, carregava quatro biscoitos de chocolate. Ela passeava pelo banheiro. Saía. Voltava. Durante sua última volta, eu, com minha mochila aberta, retirei um frasco de perfume e comecei a descarregar em mim. Foi quando a pequena olhou-me, curiosa, mais uma vez inocente e, com toda a sua delicadeza, apesar das maçancinhas do rosto estarem meio sujas, perguntou-me: "Passa um pouquinho em mim, moça?". Eu a vi, bem dentro dos olhos...e era linda, pura, criança e carente. A vontade que senti era de pegá-la e levá-la comigo. Seu corpanzil deixava entrever a fome: a fome de um lar, a fome de uma mãe e a fome de uma alegria. Eu não sei exatamente o que "se perfumar" significava para ela. Não sei se eram as borrifadas divertidas ou se era a sensação do cheiro bom que a vida pode proporcionar. Não conseguia captar muita coisa: eu estava parada a olhar aquela pequena alma....guardando os biscoitos para uma hora mais oportuna, talvez. Não lhe neguei o pedido: "Claro. [...] Pronto, agora você está cheirosa!" Disse eu, feliz em poder vê-la um pouco mais distante de sua triste realidade. E ela respondeu-me: "Obrigada!". E atravessou a porta. Não preciso explicar o quanto a presença daquela menina significou em minha vida. Ela se foi, sim. Mas um pouco dela ainda está mim. Ela havia me escolhido.


"Nessas horas é que Deus deixa pistas
Pra eu ser feliz..."
Leoni

sábado, 2 de julho de 2011

Romanceado




"Ela passou do meu lado. 'Oi, amor.' - eu lhe falei'. Você está tão sozinha." Ela então sorriu pra mim. Foi assim que a conheci, naquele dia junto ao mar: as ondas vinham beijar a praia, o sol brilhava de tanta emoção. Um rosto lindo como o verão e um beijo aconteceu...Nos encontramos à noite; passeamos por aí. E num lugar escondido, outro beijo lhe pedi. Lua de prata no céu, o brilho das estrelas no chão. Tenho certeza que não sonhava...A noite linda continuava. E a voz tão doce que me falava: 'O mundo pertence a nós!' " [...]

QUINTANA, Mário

BILHETE
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...