domingo, 29 de dezembro de 2013

Relato sem título

Eu não sei se isso é legal, sabe? mas eu sempre fui de me apaixonar. Acho que me apaixonei demais nessa vida – ou acho que. Mas, bem mais que me apaixonar pelo cara da balada ou pelo amigo que era da faculdade, eu me apaixonei pelas histórias que eles traziam. E isso, sim, acho que tem um “q” de paixão de verdade. 

Eu queria tanto fazer parte daquelas histórias, sabe? Queria ter um espacinho, ter um pouco de cena, fazer linhas e ser lembrada. Eu queria que aquelas histórias se unissem com a minha, entende? Porque eu acho que quando se gosta de alguém, se deve abraçar a bagagem desse alguém junto. Eu queria ter ficado. Daria tudo para ter ficado, e faria tudo outra vez, para tentar ter ficado. Não, não é carência. Nunca foi carência. É porque quando se gosta, se gosta, e  era“o começo do fim das nossas vidas”: aproveitaríamos. E eu queria ter tido o começo, primeiro; não o fim. Porque sempre acreditei nesses lances de amor...afinal de contas: o mundo só existe em virtude de um amor primeiro.

Quando eu estava de mãos dadas com minhas paixões eu quis histórias reais, não coisas do cinema. Minha vida não é um filme. Será. Ela ainda não acabou – eu ainda não morri. Efetivamente. Cada fim foi um recomeço e eu repeti a fita umas mil vezes aprendendo de verdade só duas partes dela. E mais duas na seguinte. E mais duas no que veio depois e assim por diante. Quando eu estava de mãos dadas com minhas paixões eu só queria bons amores: daqueles que apertam sem amarrar, aqueles que quebram copos, viram dias em silêncio, mas que oferecem colo, braço, perna e coração. E até lágrimas, caso fosse necessário. 

Eu queria amores que conversassem. Olho no olho. Mãos com mãos. “O meu cheiro no teu travesseiro”. O teu amor na minha saudade. A minha saudade no teu reencontro. O meu abraço na tua vida. A minha dor nos teus olhos. Minha felicidade na tua esperança. Queria amor desses normal. Que fazem companhia; que dizem que é hora de voltar, ir embora, chegar, correr, morrer. Queria um amor para ser aceito em paz com seus defeitos de fábrica, mas que me obrigasse a ler manuais. Ver palestras. Pedir ensinamentos. 

Mas nada deu certo até agora.  E meu amor não deixou saudade. 

Porque, na certeza de dias melhores, ainda não deu tempo dele chegar "nesse lugar que ninguém mais pisou".