domingo, 14 de outubro de 2012

Os amores que Lísia (não) teve


Lísia pintava as unhas de rosa pink, o cabelo de caramelo, adorava bolsas vermelhas, saltos 12 e Rimbaud. Pelas duas da tarde já havia feito sempre metade das suas atividades do trabalho. À noite, corria para o ballet a fim de buscar seu equilíbrio emocional, ou melhor, aperfeiçoá-lo. Aos 23 anos de idade Lísia já era uma mulher adulta, com um emprego legal, um Troller amarelo e toda a sua coleção dos Beatles e do Chico completas na estante principal do seu apartamento. Sem falar que já estava em seu segundo momento de coleção cinematográfica: mesmo sendo uma pessoa alegre, sempre tendenciou apaixonar-se pelas obras de Burton, sua primeira fileira de filmes fechada. Agora, iniciava a sua saga pelas histórias coloridas de Allen. No mais, Lísia se completava, só não nos amores. 

Se Lísia fosse uma cor, certamente seria transparente. Nunca foi de pintar muito suas palavras, a não ser que fosse um assunto que se envergasse para as Artes, fora isso, diziam que ela era fria. O mais engraçado é que os afirmadores desta acusação eram justamente aqueles quase-amores que Lísia abandonava. Ela sempre foi uma menina romântica, daquelas que comprava vasos e vasos de flores e escondia embaixo da pia na esperança de que, em algum momento de sua vida, o porteiro do seu prédio interfonasse e avisasse que subiria com umas flores para ela. Contudo, mesmo ainda chorando ao ouvir Roberto Carlos, Lísia aprendeu com a vida que nem tudo são flores. 

Seus antigos romances nunca deram certo, e ela vivia se preguntando o porquê de tudo acabar em reticências. Um dia, acordou filósofa. Olhou para o espelho como filósofa e decidiu revisitar amores na sua memória e buscar um ponto em comum a todos eles. Depois de algumas doses de café e umas palavras de Billy Paul, numa manhã cinzenta de início de ano, Lísia contentou-se com uma lógica: enquanto esteve conhecendo as pessoas amantes de sua vida, em nenhum momento deixou de ter dúvidas motivadas pelos Juans. Sempre houve uma incógnita sobre eles escondida, camuflada. Algo que ela fez a vida toda vista grossa de óculos escuros. Talvez por comodismo, talvez no erro de pensar estar fazendo uma coisa e na hora outra, sem saber. Em suma, foi em um dia de filósofa, cinzento, de Billy Paul, de café forte, que Lísia se deu conta de que o melhor caminho é o da certeza discursiva. Viver de interrogações é mal caminho. 

Lísia percebeu, jogando-se no sofá, que nunca foi amada por nenhum deles, tendo em vista que, por conta da dúvida particular que estes tinham, nunca nenhum deles lhe dera a certeza positiva, desse modo, nas entrelinhas, a obrigação dela era uma hora desistir. E assim o fez a vida toda. Depois de todo esse momento-descoberta, Lísia seguiu para o banho, soltou Jobim pela casa, lavou o caramelo do cabelo. Desceu para encontrar o Troller com uma caixa cheia de cacarecos: eram as lembranças dos antigos amores. Jogou na mala. Perambulou um pouco pela cidade, parou em uma lixeira pública, deixou tudo lá. 

Lísia nunca foi amada. Mas sem preocupar-se com isso, lembrou-se que tinha marcado hora no salão para trocar o tom do pink das unhas, lembrou-se que chegara novos longas do Allen e que, às 22h, ficou de encontrar Beto no La Monique. Ao menos Beto já havia dado certeza que iria, e isso já era um bom sinal. 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Do lado de fora


Em uma conversa tranquila, perguntei quais motivos justificavam a partida dela. Aberta a seção de argumentos, ele ficou em silêncio. Olhou para o copo em cima da mesa, virou-se para o lado e, com uma menção de lamento no olhar, contou-me. A postura dele comportava-se com imprevisibilidade. Era estranho um homem daquela envergadura moral apresentar-se um tanto quanto perdido nos seus próprios desenlaces.

- Estranho seria se, realmente, ela não tivesse ido embora – disse.

- Como assim?

- Eu nunca estive com ela, para falar a verdade. Sempre achei que estava tão bem comigo mesmo, com minha vida e com meus problemas. Nunca, para ser sincero, eu a deixei entrar. Acho que ela estava o tempo todo na janela da minha vida – espiando-me de fora para dentro, ou, como fazemos nos balcões das lanchonetes: solicitando as próximas ações aos atendentes.  Para dentro da minha vida não deixava passar muita coisa. Tudo aquilo que poderia, mesmo que fosse por alguns minutos, me fazer perder a direção, eu colocava uma etiqueta vermelha e um prazo de validade. Ela levou muitas etiquetas vermelhas.

- Mas por que “etiquetá-la”? Afinal, gostavas ou não dela?

- Eu gostava. Não gostava era do jeito completamente persuasivo dela. Do cabelo ao modo de falar, ela sempre me foi diferente. Eu sempre tive....bem, para você eu posso dizer: eu sempre tive medo de que, a qualquer momento, eu pudesse pedir para que ela me pegasse pela mão ou então me acariciasse os cabelos a fim de tornar meu jeito de pensar menos propenso a desconfortos e minha vida um pouco mais cordial.

- Compreendi em partes o que você falou. Mas, afinal, ela era mais problema ou, digamos,  mais solução?

- Ela sempre foi completa. Eu é que fingia não ver. Fazia questão de não demonstrar. No fundo, eu tinha interesse, mas sempre julguei que em relação às coisas que eu fazia, ela seria imprópria a todas. Mas eu me enganei. Depois de um tempo, um tempo tarde, diga-se se passagem, eu percebi que meu egoísmo foi de tamanha primeira pessoa que, quando dei por mim, tinha jogado a grande chance da minha vida pela janela. Afinal, nunca fui capaz de abrir a porta para ela entrar. Se ao menos assim tivesse feito, a teria convidado para desfrutar de um matte gelado, uma boa conversa, e, quem sabe, uma divisão de dia. 

- Mas, no entanto, negaste a regar flores.

- Exato. Neguei-me a regar flores. Estou sem jardim. Agora tenho de me contentar a regar a casa com perfumes artificias - com a obrigação de se aproximarem ao máximo do dela. 






sábado, 1 de setembro de 2012

Das intermitências da paixão e das penitências da saudade


Sobre a paciência a gente sabe bem pouco: só sabemos mesmo quando nos dispomos a conhecê-la. Tarefa árdua, teste de sobrevivência, mas com um fim satisfatório. Não necessariamente na ordem "felicidade-felicidade-desilusão do fim". Talvez seja mais apropriado afirmar que a ordem poderá ser "desilusão no início-felicidade-felicidade-desilusão da parte do meio-felicidade-lição". Perceba que o fim não veio. E nem virá. 

Paixão faz parte daquele conglomerado de sentimentos que aprendemos a sentir sem pretensão alguma e quando nos damos conta, já passeamos pelos diversos estamento que a formam e já aprendemos um pouco mais do que é a vida, também.

O esforço que ela fazia era hercúleo. Nem ela própria se reconhecia. Para e respira...respira e para. Continua. A sensação que ela tinha era que estava a persistir pelo (e no) vazio. Lutava contra  o silêncio e percebia que, por vezes, falava com as paredes. E falar com as paredes era uma tortura para uma menina de alguns vinte e tantos anos quebrados sem fastio. Ela queria tentar, para que depois não se arrependesse de não ter se dado aquela oportunidade. De fato, a probabilidade de desistência não lhe saía da cabeça. Para o momento em que se encontrava, divisão, partilha e união se coadunariam a favor de todo o universo em que  habitava. Ao mesmo tempo, rezava para não ser egoísta e, nem mesmo, repousar nas dependências de Narciso. Mas já doíam-lhe as palavras. Alguém na história parecia não querer entrega, apenas devolução. E a devolução é um transtorno maior que o estágio inicial: vem no pacote a saudade, o "tentar" submerso, a ida quase que em vão e a vontade de ter permanecido um pouco mais - além das linhas que pareciam já terem sido escritas. Mas ela sempre fora persistente nesta vida: se espetara várias vezes dando "murro em ponta de faca". Mas, da pouca matemática que sabia, a "prova dos nove", sempre a agradara. 

Por fim, mesmo nas intermitências de uma paixão, que aos trancos e barrancos não sabia se concretizavam-se ou se caíam no esquecimento, deixou-se levar pelo vento do indefinido.  Aceitou que penitências amorosas ainda nos tiram da possibilidade de não descobrirmos o que nos faz realmente vivos, demasiadamente humanos. E, quem sabe, mais próximos daquilo que é justo.



terça-feira, 24 de julho de 2012

Agradecimentos Monográficos: ou como falar de quatros anos de Letras


*Texto anexado ao Trabalho de Conclusão de Curso

Ao som de   You get what you give, The New Radicals     
....

Busquei no dicionário Aurélio o verbo “agradecer” e o encontrei significado como sendo “mostrar-se grato por; demonstrar gratidão”. Há diversas formas de agradecermos às pessoas e à vida pelas situações e experiências as quais somos suscetíveis: manifestamos-nos por meio de uma música, flores, um olhar ou da maneira que farei agora, nestes parágrafos que se seguirão: por meio de palavras dispostas com todo o carinho do mundo.
Para todo início, há uma Santa Fé e um agradecimento.
Papai José Benedito, o nosso amado Biné, e mamãe Joana, querida Joaninha. Pais indubitavelmente incríveis. Meus heróis.
À professora Dinacy Mendonça Corrêa pela orientação nesta pesquisa e tantos outros direcionamentos desta vida e tantas outras oportunidades que ultrapassam os muros de nossa UEMA. Sem esquecer o convite à Literatura Maranhense – uma vez um primeiro “Olá”, jamais um “Adeus”.
Aos amigos de Alma:
Natássia Sampaio, minha maninha: crescemos juntas, estudamos juntas e ainda há uma vida inteira para dividirmos. Das palavras que em silêncio eu falei, e você com todo o amor e carinho as interpretou – também em silêncio –, dando início e permanência aos nossos diálogos, muito obrigada. Pela presença em pensamento e no coração, pelos nossos melhores sorrisos, pelas nossas broncas compartilhadas. Amo você.  
Wendel Vinicius, meu alterego versão masculina: no constructo destes quatro anos e meio nos “unimos em divisão”. Foram trabalhos, eventos, trocas e longas conversas debruçadas em meio à intelectualidade. Das brigas e distanciamentos, agradeço pela nossa evolução. Atravessando o “portal da Uema”: acho melhor escrevermos um segundo livro. Pela parceria no trabalho, com nossos “filhos” adotivos: um terceiro volume e mais dois dedos de catarses – de delírio, por favor!  
Leandro Olivio, admirável amigo: “This lightning storm, this tidal wave/ This avalanche, I'm not afraid” (Esta tempestade relampejante, este maremoto/ esta avalanche, eu não estou com medo). Peguei emprestado esse trecho do R.E.M (suspeito, não?) para transformar em alegoria o que, inspirado pelo seu amor ao esporte, eu tenho aprendido: ”Enquanto estiver vivo, sentirei dores” [Léo]. E a luta na Academia é árdua, nos leva a alguns tombos e certos momentos de pura estafa, mas, mesmo assim, vale à pena entrar na luta – e não ter medo. Pela companhia, pelos conselhos e pelo carinho, Léo, obrigada.
Ana Clara, Garra: há quem diga que trincheiras, muros, paredes ou estantes separam dois espaços. Em nosso caso, uma estante – repleta de livros – é mais que um item convidativo, é uma intimação para estarmos juntas. Tampouco estantes são capazes de separar duas ciências: há justiça em qualquer literatura. Pelas aventuras, cumplicidade e longa parceria, Aninha, obrigada.
Victória, menina-surpresa: eu sei que esse silêncio todo é um pouco de presença também. E seguimos juntas para além de uma década e, sempre em meio à saudade, sei que tenho teu aconchego. Adoro você. Você sempre se faz presente – mesmo que de um modo quase mágico.
Aos companheiros de turma: Flávio e Elysmilla, sem vocês nossa 2008.2 não teria graça; poetas queridos Sebastião (dear Sebá), Igor Pablo e Weslley; ao “kafkaneano descolado” Eduardo, querido Dudu; Denise, querida Dê, você talvez tenha saído antes da hora, mas sempre nos momentos mais precisos estiveste presente, obrigada; meninas Ane Beatriz, Yamile e Tatá (vulgo Maria Aparecida), nos desencontramos diversas vezes, nos fizemos juntas tantas outras, mas, mesmo assim, obrigada por fazerem parte dos meus momentos felizes. A Márcio Arthur, ao amigo, com amor: porque nossa relação sempre merecerá mais do que breves citações. A Eduardo Gomes, porque dormir depois de muita intelectualidade também se faz necessário. Aos amigos-uemianos-pedagogos-parceiros-da-vida-[e de DCE], Carolina e Wedson.  A Jorge Lucas, meu mais novo amigo: porque só agora te conheci, hein?
Às minhas flores Ana Paula Avelar e Georgiana Maia, que além de dividirem comigo nossos 695 rebentos no Laboratório de Redação do Colégio O Bom Pastor Júnior, também foram atenciosas e pacientes para comigo. Muito obrigada 696 vezes – sem vocês eu não teria conseguido.
À @deysebatista (Deyse), @nandinhalopez (Fernanda), @kleriss (Kleris), @diana_ms (Diana) e @wendelvinicius (Wendel), pela companhia incansável neste momento de monografia. Sem vocês, “monografar” me seria um encontro com a solidão. Obrigada mesmo!
Às professoras-espelho Iranilde Almeida Costa e Dinacy Corrêa pelo crédito e pelos ensinamentos em nossos dois anos de Iniciação Científica. Às professoras Vanda Rocha: se não fossem suas orientações, ainda em Crítica Literária, certamente esta produção levaria mais algum tempo para tornar-se – do mesmo modo, minha maturidade em Letras. Andrea Lobato, Teresa Cristina, Sílvia Furtado, Aldenora Márcia e Josenilde Siqueira, minha eterna gratidão: pela qualidade, pelo compromisso e pelo zelo em suas aulas.  
Ao Colégio O Bom Pastor e O Bom Pastor Júnior, juntamente com a equipe do Laboratório de Redação: Wendel Vinícius, Ana Paula Avelar, Georgiana Maia, Ane Beatriz e Yamille – e por extensão Gisele Sá, pela confiança. Aos colegas que revisaram este trabalho, Ana Luíza e Isaú Dias, “tio de Filosofia”. À professora Natália, “tia de História”, pelos livros que muito me ajudaram. E em especial, à Priscila Robertha, “tia de Redação”, pela amizade construída e por todos os conselhos que recebi.

E que agradecer seja uma palavra que eu jamais esqueça de revisar no dicionário. 


segunda-feira, 16 de julho de 2012

A incrível arte de [des]embrulhar



Foi sem querer. 

[Essas coisas acontecem mesmo - acidentes. A gente planeja as compras, algumas metas mas, (in)felizmente, coração é terra de ninguém. Mais ou menos assim. Determinadas situações deveriam ter passado em branco para todo mundo. Essa é a verdade.] 

Ela deixou a sugestão no ar. Ele foi bem mais direto e tocou no assunto. Em ordem, tentaram colocar aquela celeuma toda em branco, letra a letra, personagem a personagem. Há quem pense que foi exagero, há quem diga que tudo isso era preciso. Mas acabou acontecendo e ela se deparou, mais uma vez, com a surpresa. [As pessoas só se tornam palpáveis para nós, quando realmente as tocamos.] E se ela tivesse descoberto isso há mais tempo, certamente teria feito de outra maneira - inclusive da sagaz escolha de como deixar dito. E se desse para ter ido embora, provavelmente ela não teria saído nem mesmo do lugar. 


Houve uma linha tênue entre colocar tudo a perder e acabar perdendo. De vez. E ela não foi imaginária. A licença ao passo que foi pedida, foi concedida. Mas ainda assim houve um vácuo arisco. [E com saudade a gente não brinca, a gente se desfaz dela.]



sexta-feira, 29 de junho de 2012

Volto logo






"Longe, longe, longe, longe, agora sinto
Saudades de nós dois,
De tempos quando estávamos tão perto e tão certos
Do que iríamos fazer..."









quinta-feira, 7 de junho de 2012

Sem eu-lírico


Ao som de Santa Chuva, Marcelo Camelo

Se um dia o seu perfume ficar no meu travesseiro ou entre os lençóis, é porque certamente algo deu certo. Muito certo. Chegar a este nível, o nível das pistas de "como-te-achar-para-não-mais-te-perder", é porque evoluímos, juntamos forças, escrevemos juntos e fomos à partilha.

Certamente você vai mexer na estante do quarto. Vai querer saber qual a possibilidade de cada um daqueles livros terem um traço meu. Você não vai se certificar se eu já li todos eles. Vai escolher um, abri-lo, ler duas ou três linhas, voltar o seu olhar para mim...Talvez pergunte alguma coisa. Voltará para o livro. Depois que fechá-lo, imaginará se o que se passa conosco agora renderia 150 páginas. [E se você voltar para a cama depois disso será um ganho tremendo para as relações unidas.]  

Vou te guardar uns segredos: talvez deem certo com sua ajuda; talvez se tornem memoráveis com a sua vontade; talvez se tornem uma mensagem codificada para você. Até mesmo. Teremos a dança da surpresa [eu sei, você gosta] sem nada acontecer. Sem medo de ficar.

E se vier um Valentine's, vai ser bem engraçado até. Eu e minha inexperiência para presentes. Eu e minha experiência para revigorar esse sentimento em 365 dias e um extra a cada 4 anos. Se tiver chuva, eu sei que será mais um ganho. Adoro aquelas aulas de Geografia [corporal]. Não vou te dizer quando você deverá vir..você sabe. E eu certamente assentirei. 







Daí, como de costume, te namorarei por mais um Valentine's...e outro Valentine's...


Até onde  nosso amor nos for possível para dois.







segunda-feira, 21 de maio de 2012

O bem-fazer da arte do leva e traz




Começo o texto de hoje com aquela máxima: “O inferno são os outros”. Bem, dependendo da sua perspectiva, esta mesma frase pode possuir deveras interpretações.  Ao passo que o título deste post sugere, o inferno são os outros, mesmo. De verdade, o inferno são os outros e a língua que eles têm. Não reclamo aqui da possível falta de direito de expressão, de falar aquilo que queremos. O mote não é esse. O fato aqui é simples: para quê, no intuito de ‘diz-que’ abrir os olhos dos amigos, a pessoa joga esse amigo no próprio inferno de Dante e “ainda quer ser amado” por isso? [ sem propósito benéfico] Olha, realmente, o inferno é a língua de trapo de muita gente por aí. Realmente, o inferno são os outros.

Do bem-fazer da arte do leva-e-traz sabe-se muito. Você leva. Certo. Aquilo que você traz reflete quem você é. Vejamos: o tiro sai pela culatra. O inferno é você, os outros, o inferno (novamente) e vocês dois. A realidade é quente. Arde que é uma beleza. E ainda bem que deste leva e traz, quem se faz visível é você. É, realmente, o inferno são os outros. Ou nós, quem sabe...

terça-feira, 1 de maio de 2012

Senta. Deixa eu te contar.

Noite.

[Hoje eu tive medo e você não estava aqui. Eu olhei para o quarto e tudo estava da mesma maneira que eu havia deixado quando entrei na noite passada. Engraçado, eu às vezes busco uma nova decoração para a nossa vida mas não encontro na condizente para esse nosso amor mutante. Deixa pra lá, eu tava devaneando. Voltando ao assunto, eu fiquei medrosa hoje, e onde você estava? Liguei no seu telefone, deu caixa postal. Falei com o porteiro lá embaixo e ele disse que viu alguém parecido com você no hall do prédio, não soube dizer nem se era você mesmo ou se este alguém estava entrando ou de saída. Incrível, você não parece estar aqui quando eu tenho desses meus medos. Você vai sempre embora me deixando tonta. Crueldade. Certo que eu tenho que me virar sozinha, ser independente de você, mas contar com um beijo no cabelo seguido de um abraço é sempre magistral. Vou fechar meus olhos, sempre funciona quando a gente sente medo.]


Meio da noite: 

- Hã...que foi?

- Nada não. Amanhã te conto tudo [Inclusive do sonho que acabo de ter].






quinta-feira, 26 de abril de 2012

Agora deixa vir as lembranças


Ao som de Victim  of a foolish heart, Joss Stone [audio]

Presta bem atenção menina. Eu deixei você entrar, eu deixei...eu quis, eu desejei, eu me permiti te amar, mas agora já chega! Pega as tuas coisas e desaparece da minha vida. Qual é a tua, menina? Ainda não cansaste do joguinho? Poxa, cara, eu te amei. Eu te amei como se a vida não coubesse no meu peito, se não existisse ninguém além de você. Se a única luta que eu tivesse nesse planeta fosse sobreviver a teu lado. Sim, se estou exagerando? É, pode até ser, mas nesta altura do campeonato, quem é parâmetro para quem aqui? Caramba! Sabes o quanto tu mexeste na vida underground desse cara aqui? Sabe o esforço que fiz para ser teus melhores: amigo, namorado, cúmplice, parceiro. É, já que quiseste ir embora, então vê se não custa, vê se não demora, não faz eu desistir...e trancar aquela porta. Vai! Atravesse-a logo que ela vai nos separar para sempre.  Some. Termina de deixar de me amar. Ponha-se do meu coração para fora...já não é bem-vinda aqui. Lembra da nossa história? Isso, exatamente isso que eu quero que você faça: joga fora. Não esqueça de nada. 

Muito menos de que meu amor um dia foi teu.
Muito menos que por ele fui previsível.
Muito menos que fui quem eu  gostaria de ter sido.

Agora deixa tudo virar
lembranças, 


nesse meu eterno espaço de te desejar






adeus. 




[pedindo pra você voltar]

domingo, 22 de abril de 2012

Sinceramente

Todas aquelas vicissitudes de menino. Esquece.

Eu vi tudo voando pela janela. [Tinha chegado em casa completamente atordoado. Não sabia se eu entendia, se eu enlouquecia ou se eu embebia o tudo o que ocorreu naquela noite. Confuso. Quase bati meu carro. Por pouco não quebrei o vaso do corredor e por um outro triz, quase escolhi recuar. As coisas tendem a acontecer quando menos esperamos e, na boa, foi o meu caso em relação a você. Tão cedo não escolhi ser feliz....ou estar feliz, quem sabe. Mas eu deixei meu arbítrio, dito livre, no verão passado. Meu orgulho larguei na jogatina. Minhas dores, no meio da rua. Estás vendo? Não me reconheço mais desde alguns dias, e, especialmente desde uns 20 minutos atrás. Quando eu resolvi [definitivamente] ficar com você. Minha menina doce, agora sou um homem apaixonado. Eu realmente não queria que isso estivesse acontecendo, mas agora eu quero. Por tudo mais sagrado que exista, eu quero que isso tome conta de nós.] Meu passado voou, atravessou ventos e se desfez. O perdi de vista. Passei minha vida inteira em meio a eventualidades e nunca me dispus por inteiro. Era um cara de convencer e ser convencido pela metade. Bem antes de saber sobre essa tal paixão, eu passeei pela grama do vizinho e não vi o quanto verde ela era, daí voltei meu olhar em direção a minha casa e percebi que eu é que não tinha dessas coisas. 

Fui ficando sentimental aos trancos e barrancos. Hoje, já não me sinto tão resignado assim. A gente descobre que tem amor para dar quando passa a acreditar que há pessoas reais. E que somos visíveis ao tato de muita gente também. Outro dia mesmo reli tuas mensagens no meu celular. A última vez que fiz isso fiz questão que não existisse porque sou um homem de menos palavras e mais atitudes. Por isso não falo que estou apaixonado: prefiro te amar logo por inteiro.


segunda-feira, 16 de abril de 2012

Segunda-feira abandonada

Ao som de Santa Fé, Beirut

Eu acordei numa segunda-feira meio tonta e desvairada. Ela me chamava assim: “Vem cá, Luiza, me dá tua mão”. Inexplicavelmente a tontura passou e a fome repentina bateu. Fui até a geladeira e vi meia ricota e um saquinho de pão. Delícia. Sete da manhã. Ele ainda dormia. Minha tontura passava. Ele ainda dormia. E eu descobri a razão de ter acordado tonta e desvairada. Ele ainda dormia... e eu acordada. Foi uma segunda-feira muito bandida, eu sei.



domingo, 15 de abril de 2012

Bem antes do teu encontro. Ainda bem.

Bem antes do teu encontro eu não passava de um homem inocente, iludido naquilo que eu achava verdade: meu emprego assegurado, minha casa bem decorada, meu carro do ano, meu charme, minha inteligência e meu carisma de homem conquistador. Ilusão geral a perder de vista. Eu juro que te coloquei muitas vezes na espera, "eu te ligo depois", " amanhã a gente se fala", "ok.". Foi, inclusive, bem antes de você que toda essa falsa história começou. Sempre fui bem cheio de mim. Andei longos caminhos, docemente perfumados (se é que você me entende) a me embriagar  até querer trocar de flor. Eu te deixei no escuro, eu nem te protegi, não fiz menção honrosa e nem mesmo te beijei com um sentimento mais meu, por assim dizer. Eu peguei aquilo que eu pensava ter (e, ser) e te larguei no meio da vida. Fui o canalha que existia, até então, apenas na história lamentosa da sua melhor amiga. Querida, eu te enganei de verdade; te preguei mil peças e você só foi perceber bem depois. Sorri como que lobo em pele de cordeiro enquanto você, munida de toda a sua lealdade, sorria feliz. Eu te possuí, menina, como se fosse a minha maior valia - até eu poder encontrar quem te ganhasse. Não quis cantar para melhorar as coisas porque, na boa, nunca saberia mesmo pronunciar meio tom sem achar aquilo desnecessário. Mas tudo isso aconteceu bem antes do teu encontro.

Bem antes do teu encontro eu não sabia que te amaria algum dia. Não imaginaria que por dentro deste besouro horroroso que fui, pudesse existir um homem de verdade. Eu fui "amador" por longos anos e nem me dei conta. Acreditei que poderia estar valendo alguma tralha, mas depois tomei um soco bem no meio das pernas, que me rederam uma queda brusca e a descoberta do quão desconfortável é um tombo. No fundo, amor, eu não sabia era nada da vida.

Você, depois do nosso "fim", cresceu sem me dizer absolutamente nada. Daquela menina, bobinha, carinhosa e insegura que eu fiz questão de brincar, você deixou pouca coisa. As partes mais fáceis de lidar, de persuadir, você jogou para o alto. Nunca mais as encontrei. E, por ironia do destino, foi neste teu encontro particular que eu catei cacos de mim e venho tentando me remontar, também. Um tapa bem na cara que eu levei quando vi que a tua vida era bem mais interessante sem mim por perto e que, pior e melhor no final, que a minha era simplesmente vazia por faltar você. É certo que depois de você tantas outras seguiram, mas, fiz questão de esconder: eu já te queria, só que era do meu jeito torto e barato de homem; não com essa tua força e segurança de mulher. É, foi no teu encontro, na tua volta (não necessariamente para mim) que eu vi que estava indo longe demais: te perdendo de uma vez por todas. Mas, para minha felicidade, consegui você ao meu lado (necessariamente para mim), de verdade e em definitivo.  

Pela primeira chance de ser feliz. Ainda bem.


Ao som de      

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Cada um com seu céu de escolhas

Ao som de Macy Gray, Time of my life

Um dia desses, ela cansou de ser quem ela era e passou a ser quem ela gostaria de ter sido durante toda a vida. Aquilo que ela via e, principalmente, ouvia, já não lhe era mais agradável. Havia um sentimento de cansaço, de fadiga, de desmotivação. A auto-análise lhe convencera que, de fato, ela não era a pessoa mais certa para todas as ocasiões, mas que sim, ela poderia auxiliar em todas elas. No entanto, ela optara por emudecer; trocar rumos e expandir horizontes. Se a sensibilidade lhe serviria como único alimento? Ela preferiu acreditar que sim.  Daí, como cada pessoa escolhe e/ou tem o céu que lhe cabe, ela resolvera desenhar o seu transparente. No fundo, seria particular. Próprio e filho único. Em tempos mais remotos ela se importaria. Não se sabe se ela teria resistido em outros tempos, em outros paradigmas. O fato é que agora ela se vê obrigada em olhar para o céu que a rege. Examinar toda a imensidão que a acompanha. E descansar da pessoa repetitiva que foi. Ela foi uma boa companhia; um bom coração. Hoje, para lá dos seus poucos anos, quer descansar. E olhar para o céu: só seu. 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Peça

Slow dancing in a burning room, John Mayer


Seja minha. Deixa que eu te cuide e te faça feliz. Deixa eu te pegar pela cintura, te abraçar como se o mundo acabasse daqui a três minutos; me embriagar nesse teu cabelo. Deixa eu ficar sentindo esse teu perfume até não caber mais em mim; me leva pra essa tua galáxia extraordinária que você me promete toda vez que segura a minha mão. Deixa eu te beijar por longas e longas datas. Vem, eu vou te segurar. Prometo. Eu tenho umas coisas para te contar, outras para dividir. Serão todas tuas. Quero o direito de te acordar - ou da cama, ou da vida. Mas fica em mim, tá? Vê se fica por uma temporada não repartida em séries. Vê se escuta as coisas que eu te falo. Vê se desapega desse medo e dessa mania de segredar tudo. Vê se fica aqui. A gente vai brigar, eu sei. Estou aqui para isso. A gente vai tentar sempre ficar bem e dar o melhor de nós, eu sei. Eu sempre estive aqui para isso também. Eu vou te aconchegar. De vez em quando eu vou querer ficar sozinho, mesmo assim, eu serei previsível e estarei com você de qualquer maneira. Do que depender de mim, serei teu travesseiro, teu cobertor e teu melhor amigo. Só não me peça para ir embora. Não agora. Nem depois. Nem tão cedo. Sempre tarde. Mas só vê se fica aqui. Tô pronto para que você me seduza e de algum modo me escolha. Me escolha. Vem ser daquelas espécies que circundam, planejam, atacam e não soltam. Vem ser daquele tipo que tenta matar, mas fica só na tentativa, deixando-me livre para poder te ter. Não me invente mentiras. Peça da maneira mais absurda. Mas vê se não me fica em silêncio por muito tempo. Pra mim, amor também vai no calado, na surdina. Mas eu gosto mesmo é de ouvir a tua  voz: é muito bom saber que você é real. Não solta a minha mão. Vou tentar sempre ser transparente com você: não precisa se esconder de mim, eu sempre vou te achar. Não vamos perder o ritmo. Tenta não desviar teus olhos dos meus; meus pés, meus braços, minhas mãos e meu coração vão te guiar. Não se preocupe, você vai ficar bem. Eu não tive histórias. Eu não tive trilha. Eu não tive boas razões. (só) te tenho. E a isso me entrego, me assumo, me prendo, me submeto, me congratulo e te amo. Vem pra cá e divide comigo a tua história. E me deixa ser: a tua peça mais perfeita.



sábado, 18 de fevereiro de 2012

Ame ou deixe-o....

...amar.


Half of my heart -  John Mayer


Ele morava sozinho desde os dezoito anos de idade e, hoje, aos 25, continua dividindo o mesmo apartamento com as mesmas solidões. [Ele nunca fora o cara mais extraordinário que uma garota poderia esperar. Mas uma coisa ele tinha: amor. E ele meio que se programava para isso. Tentava tratar a vida com mais respeito e cada investida como a última das lutas da face da Terra. Engrenar um romance duradouro era uma ideia que lhe perseguia sempre, mas que ele fazia questão de esmiuçar apenas para as garotas mais completas. Gostava, incansavelmente, da pele. Do toque. Da troca. Do passeio: ou desenfreado, ou destemido. Na verdade, contemplava nas meninas da sua turma a inteligência, às da vizinhança, sedução. Das que passeavam pelas ruas próximas ao prédio, a capacidade de desprendimento. Para aquela que seria só sua, e teria em mãos a chave de sua vida, ele reservou dueto. Dela queria apenas uma contemplação: soma. Aquela capacidade de junção, meio inexplicável, meio sugestiva. Bem certo que sozinha ela não andaria. Ainda bem.] Trabalhava para ver se passava o tempo enquanto (ainda) não saía do trabalho para ir buscá-la e levá-la para desfrutar um programinha de casal. Cama vazia. O perfume era industrializado. Artificial. Não havia fotos na parede e, para tocar, poucos CDs. Há quem viva as/nas/de lembranças. Ele, esperava. Sem dó nem piedade. De si mesmo. Ele esperava porque mais cedo ou mais tarde toparia com ela em algum lugar. Olharia nos olhos. Talvez não sorrisse na ocasião, mas olharia  bem dentro dos olhos. [Tática de quem tem força.] E amaria. Profundamente, a amaria.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Para não ser mais de tanto amor.

Ela já não quer mais falar de amor. Não por enquanto. Ela foi vencida pelo cansaço e pela falta de pretensão de meio mundo de caras. Homens não. [Homens são uma categoria distinta dos meninos e distante dos caras. É um nível completamente diferente.] As duas categorias menores tendem a abarcar todos os sortilégios do mundo. E ela não quer mais [tão cedo] saber de amor justamente por só ter encontrado essa categoria. Ela buscou errado. Ela deixou de ser encontrada também. Ela subverteu meia dúzia de amadores. Foi subestimada pela outra metade do público. Fez escolhas na vida que lhe suscitaram discordâncias, aprazeres e um currículo amoroso mínimo. Para não ser mais de tanto amor ela resolveu dormir em sua biblioteca. Continuar em meio a páginas de verdade, de definições proveitosas. E isso não é um a tática escolhida para se esconder. Mas sim, para talvez ser encontrada o quanto antes.


"Please give me something,
'Cause someday I might call you from my heart,
But it might be a second too late,
And the words I could never say
Gonna come out anyway." You give me something, James Morrison

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O menino de Brasília, Foucault e minha paixão repentina

Sempre gostei de pessoas inteligentes. Para enfantizar, sempre gostei de homens intelectuais. Eles, infelizmente, não andam em bandos. Não constituem uma fatia expressiva das marchas. Não se autodisseminam nas redes sociais (quando digo isso, é porque, provavelmente, nunca chegarão à categoria de #hastag). Porém, eles frequentam supermercados, praias e: ponto de ônibus! Pois é, é aqui que minha história começa.

Brasília, fevereiro de 2011, Rodoviária do Conjunto Nacional

Era a primeira vez que punha meus pés na Capital Federal. Minha estadia na cidade se dera em virtude a um congresso internacional de estudantes, que me garantiria uma semana fora de casa. Adoro viajar, conhecer novas culturas e desbravar lugares. E, em Brasília, não faria diferente - tendo em vista que, a organização do encontro, lamentável por sinal, me impulsionara a fazer aquilo que não costumo quando frequento eventos acadêmicos: faltar à programação. Certo. Em um desses dias, fomos passear pelo Conjunto Nacional - nosso intuito era apenas um: localizar, o quanto antes, as livrarias mais próximas e comprar rios de sacolas. Além de nos ludibriarmos com uma conta - e cota -  financeira imaginária, destinada apenas para os melhores títulos, quando víssemos estantes e vitrines. Passeio feito. Hora de voltar. 

Na Rodoviária, seguimos rumo ao ponto de ônibus no qual o trajeto incluía a UNB. Meus amigos continuaram a ver as lojinhas enquanto o ônibus não chegava. Foi então que um rapaz, alto, simpático, com pinta de estudante, surge próximo a mim. Em suas mãos, carregava A Ordem do Discurso, de MIchel Foucault. Pronto. [ só ouvi as asas de Cupido em algum lugar. essas coisas tinham de ser dele mesmo...Meses depois assistiria ao filme Rio e, descobriria que Lionel Ritchie poderia ter sido uma ótima trilha para esse momento.]


Eu parei. Pisquei os olhos. Sim, era Foucault. Um livrinho fininho, da Edições Loyola, de material reciclado. Sim, era A Ordem. Olhei em volta. Tratava-se de um fim de tarde, de expediente, de volta para a casa - ou para quadra do Tênis Clube de Brasília onde estava "instalada". Mas era daquelas cenas não imaginadas, sabe? Cenas "Surpresa!". Coisas que acontecem quando você já está desacreditada de tantas outras.
...

Aquele rapaz me encantou pelo simples motivo de preocupar-se em agregar valores, conhecimentos e leituras dignas em sua vida. "Sim, mas ele poderia estar lendo forçadamente...quem sabe?". É, poderia, mas se não fosse o simples fato de estar com o livro (aquele amontoado de páginas em uma capa singela) em mãos. Ele poderia ter compensado seu tempo lendo um resumo extraído da internet, concretizado em duas ou três páginas de papel sulfite. Mas ele não estava. E é interessante saber como os interesses surgem. De como as pessoas se tornam interessantes uma para com as outras. E essa questão de interesse poderia ser explicada pelo mesmo Foucault, se nós nos considerarmos uma parte do discurso de nossa sociedade, erguido sob a tríade interdição-separação-rejeição. Além de objeto de desejo, ocultador de desejo e manifestador do desejo. 

Devaneios de bar : Bolero parte 2 ( A garota da mesa ao lado)

Post escrito pela minha querida @kleriss ["Até o absoluto é relativo"] em forma de comentário do post Devaneios de bar: Bolero parte 1


"O bartender tá lá enxugando mais um copo. 

(Cada vez que te vê entrar, dá uma piscadela e passa o pano naquela sua mesa. Já tens seu próprio ambiente e não se cansa de pedir um guardanapo aqui, uma caneta ali. Sempre tinha suas ideias, não podia deixá-las passar. Ele sabe do seu bolero... já deu umas espiadas quando passava entre os clientes e cedeu algumas canetas e bloquinhos de papel. Você uma vez lhe contou - ele ainda se pergunta se lembras dessa conversa - e começou por ali mesmo as primeiras anotações. 

De dose em dose, vinha o porre... de leitura, sabedoria e conhecimento. Aos tropeços você ia embora, pagava a contas. Às vezes esquecia um post-it pelo chão. Ele guardava todos na esperança de ver mais que do que estava ali escrito... esperava pela ressaca. Sua e dele. Te espera lançar esse bolero, o dia que ele poderá deixar o bar por uns instantes e sentar pra aplaudir. Espera talvez mais que isso, ouvir o grito de cultura sair de sua boca quando chegar aos bastidores depois do show...)

Reflete ele colocando o copo na bandeja limpa, logo após você ter saído na madrugada. Sorriu ao ver de longe um papel solto que deixaras pra trás. Desafiou-se pra adivinhar de quem era o fichamento da vez... sobre o que era a anotação do dia... Estava ali mais um para sua coleção.

'Tome um porre de livro, e a ressaca é de cultura...' Fernando Kerkhoff "


sábado, 7 de janeiro de 2012

Devaneios de bar : Bolero parte 1

Em alguns dias iniciarei a escrita do meu bolero. Depois de quatro anos me embriagando lucidamente da adega, dos tonéis e de algumas tavernas acadêmicas, vou começar a escrever meu relato de bar. E prometo que terá a mais límpida vodka - além das mais lindas narrativas cabareísticas. E eu ainda quero comprar certas doses de confiança. Pratos de aperitivos e mais vodka. Absolutamente, quero sair de lá bêbada. Carregada pelos meus Mestres....completamente fora de mim. Quero beleza. Ahhh.....já posso sentir o doce da Amarula no copinho. Aquela luz vermelha...aquelas fumaças das baforadas dos vizinhos....ahhh...e aquela música triunfante que vem de não sei bem de onde. Valerá à pena cada centavo a ser gasto na boemia. Há muita filosofia ali. Deixa-me embriagar. E que quero que meu bolero toque bem. Afinal, há certas coisas na vida que só acontecem uma única vez. E, neste caso, meu bolero será apenas a faixa um do meu long play [do meu primeiro long] . Foi bem difícil chegar até aqui. Será bem difícil chegar lá (!,?). Há muitos bêbados na passagem. Transeuntes. Atravessadores. E eu.


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Sobre despedidas e borbulhas de amor...

Noite de quinta. De quinta-feira. Ligo no playlist do meu computador uma música do Paulinho Moska..que soou bem diferente das vezes ouvidas lá pelos meus [acredito] 14 anos de idade. A Seta e o Alvo.

"[...] Eu grito por liberdade,
Você deixa a porta se fechar.
Eu quero saber a verdade
E você se preocupa em não se machucar.

Eu corro todos os riscos,
Você diz que não tem mais vontade.
Eu me ofereço inteiro
E você se satisfaz com metade.

É a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa não te espera! [...]"

E essa música me rendeu uma perspectiva interessante da vida: de "Quando se parte rumo ao nada". O.k, vamos em busca da graça. Certamente, o que nos é de ressalva é o modo como nós nos entregamos para a espera. Aquilo que eu espero de mim e aquilo que eu espero de outrem - frisando a preponderância do último caso. Aquilo que eu espero da vida, aquilo que eu espero do meu trabalho, aquilo que eu espero da minha carreira, aquilo que eu espero da espera, mesmo. Tais escolhas são praticamente, em razão de não sabermos o que encontraremos, uma ida rumo ao nada. Mas muitos têm medo da invisibilidade do caminho, porque muitos querem atingir "a sua meta...". E a meta é não dar o "braço a torcer". É não querer ser a outra metade; deixar-se aproximar. É ESPERAR que tudo se transforme. Sem o mínimo do nosso esforço. Sem a nossa gratidão, sem a nossa esperança e, acima de tudo, sem a nossa humildade e a nossa paciência. Nos inflamos para ressaltar o quão virtuosos somos, o quão sensatos somos. Mas, de fato, aquilo que realmente é inteligível são nossos buracos-negros. E a gente vai sugando aquilo que nos abraça, ao mesmo tempo que recuamos para o além-mar. Porque, até um certo ponto só há nós. Mas, é só até um certo ponto.
"[...] Eu ando num labirinto
E você numa estrada em linha reta."

E por muito, calorosamente eu te pedi. Carinhosamente emiti sinais. Amorosamente eu fui embora. E até ontem não sabia se a dor da partida me doía muito mais do que a dor do tombo do nosso encontro. E há coisas que eu não faço. E há coisas que eu não acredito. Mas ainda há caminhos que eu percorro. Se eu perdi o nível, penso que foi pela ausência que me trouxeras. E se eu perdi o rumo, foi porque não me seguraste. E se eu fui, realmente embora, foi porque algo de mim tu levaste antes. Talvez tenha sido a minha própria vontade de ficar. Se olhares bem, bem ao redor, foi por motivos superficiais que passaste por aqui. Já eu, não."Eu experimento o futuro."