domingo, 26 de fevereiro de 2012

Cada um com seu céu de escolhas

Ao som de Macy Gray, Time of my life

Um dia desses, ela cansou de ser quem ela era e passou a ser quem ela gostaria de ter sido durante toda a vida. Aquilo que ela via e, principalmente, ouvia, já não lhe era mais agradável. Havia um sentimento de cansaço, de fadiga, de desmotivação. A auto-análise lhe convencera que, de fato, ela não era a pessoa mais certa para todas as ocasiões, mas que sim, ela poderia auxiliar em todas elas. No entanto, ela optara por emudecer; trocar rumos e expandir horizontes. Se a sensibilidade lhe serviria como único alimento? Ela preferiu acreditar que sim.  Daí, como cada pessoa escolhe e/ou tem o céu que lhe cabe, ela resolvera desenhar o seu transparente. No fundo, seria particular. Próprio e filho único. Em tempos mais remotos ela se importaria. Não se sabe se ela teria resistido em outros tempos, em outros paradigmas. O fato é que agora ela se vê obrigada em olhar para o céu que a rege. Examinar toda a imensidão que a acompanha. E descansar da pessoa repetitiva que foi. Ela foi uma boa companhia; um bom coração. Hoje, para lá dos seus poucos anos, quer descansar. E olhar para o céu: só seu. 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Peça

Slow dancing in a burning room, John Mayer


Seja minha. Deixa que eu te cuide e te faça feliz. Deixa eu te pegar pela cintura, te abraçar como se o mundo acabasse daqui a três minutos; me embriagar nesse teu cabelo. Deixa eu ficar sentindo esse teu perfume até não caber mais em mim; me leva pra essa tua galáxia extraordinária que você me promete toda vez que segura a minha mão. Deixa eu te beijar por longas e longas datas. Vem, eu vou te segurar. Prometo. Eu tenho umas coisas para te contar, outras para dividir. Serão todas tuas. Quero o direito de te acordar - ou da cama, ou da vida. Mas fica em mim, tá? Vê se fica por uma temporada não repartida em séries. Vê se escuta as coisas que eu te falo. Vê se desapega desse medo e dessa mania de segredar tudo. Vê se fica aqui. A gente vai brigar, eu sei. Estou aqui para isso. A gente vai tentar sempre ficar bem e dar o melhor de nós, eu sei. Eu sempre estive aqui para isso também. Eu vou te aconchegar. De vez em quando eu vou querer ficar sozinho, mesmo assim, eu serei previsível e estarei com você de qualquer maneira. Do que depender de mim, serei teu travesseiro, teu cobertor e teu melhor amigo. Só não me peça para ir embora. Não agora. Nem depois. Nem tão cedo. Sempre tarde. Mas só vê se fica aqui. Tô pronto para que você me seduza e de algum modo me escolha. Me escolha. Vem ser daquelas espécies que circundam, planejam, atacam e não soltam. Vem ser daquele tipo que tenta matar, mas fica só na tentativa, deixando-me livre para poder te ter. Não me invente mentiras. Peça da maneira mais absurda. Mas vê se não me fica em silêncio por muito tempo. Pra mim, amor também vai no calado, na surdina. Mas eu gosto mesmo é de ouvir a tua  voz: é muito bom saber que você é real. Não solta a minha mão. Vou tentar sempre ser transparente com você: não precisa se esconder de mim, eu sempre vou te achar. Não vamos perder o ritmo. Tenta não desviar teus olhos dos meus; meus pés, meus braços, minhas mãos e meu coração vão te guiar. Não se preocupe, você vai ficar bem. Eu não tive histórias. Eu não tive trilha. Eu não tive boas razões. (só) te tenho. E a isso me entrego, me assumo, me prendo, me submeto, me congratulo e te amo. Vem pra cá e divide comigo a tua história. E me deixa ser: a tua peça mais perfeita.



sábado, 18 de fevereiro de 2012

Ame ou deixe-o....

...amar.


Half of my heart -  John Mayer


Ele morava sozinho desde os dezoito anos de idade e, hoje, aos 25, continua dividindo o mesmo apartamento com as mesmas solidões. [Ele nunca fora o cara mais extraordinário que uma garota poderia esperar. Mas uma coisa ele tinha: amor. E ele meio que se programava para isso. Tentava tratar a vida com mais respeito e cada investida como a última das lutas da face da Terra. Engrenar um romance duradouro era uma ideia que lhe perseguia sempre, mas que ele fazia questão de esmiuçar apenas para as garotas mais completas. Gostava, incansavelmente, da pele. Do toque. Da troca. Do passeio: ou desenfreado, ou destemido. Na verdade, contemplava nas meninas da sua turma a inteligência, às da vizinhança, sedução. Das que passeavam pelas ruas próximas ao prédio, a capacidade de desprendimento. Para aquela que seria só sua, e teria em mãos a chave de sua vida, ele reservou dueto. Dela queria apenas uma contemplação: soma. Aquela capacidade de junção, meio inexplicável, meio sugestiva. Bem certo que sozinha ela não andaria. Ainda bem.] Trabalhava para ver se passava o tempo enquanto (ainda) não saía do trabalho para ir buscá-la e levá-la para desfrutar um programinha de casal. Cama vazia. O perfume era industrializado. Artificial. Não havia fotos na parede e, para tocar, poucos CDs. Há quem viva as/nas/de lembranças. Ele, esperava. Sem dó nem piedade. De si mesmo. Ele esperava porque mais cedo ou mais tarde toparia com ela em algum lugar. Olharia nos olhos. Talvez não sorrisse na ocasião, mas olharia  bem dentro dos olhos. [Tática de quem tem força.] E amaria. Profundamente, a amaria.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Para não ser mais de tanto amor.

Ela já não quer mais falar de amor. Não por enquanto. Ela foi vencida pelo cansaço e pela falta de pretensão de meio mundo de caras. Homens não. [Homens são uma categoria distinta dos meninos e distante dos caras. É um nível completamente diferente.] As duas categorias menores tendem a abarcar todos os sortilégios do mundo. E ela não quer mais [tão cedo] saber de amor justamente por só ter encontrado essa categoria. Ela buscou errado. Ela deixou de ser encontrada também. Ela subverteu meia dúzia de amadores. Foi subestimada pela outra metade do público. Fez escolhas na vida que lhe suscitaram discordâncias, aprazeres e um currículo amoroso mínimo. Para não ser mais de tanto amor ela resolveu dormir em sua biblioteca. Continuar em meio a páginas de verdade, de definições proveitosas. E isso não é um a tática escolhida para se esconder. Mas sim, para talvez ser encontrada o quanto antes.


"Please give me something,
'Cause someday I might call you from my heart,
But it might be a second too late,
And the words I could never say
Gonna come out anyway." You give me something, James Morrison