terça-feira, 30 de agosto de 2011

Sai daqui


Cansada. Assim estou.Você já pode ir. Eu faço questão.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Silk




pele:rede invisível

O maior órgão do corpo humano é a pele. Na falta de palavras, perfumes, bilhetes e flores, ela é mais que substituta, é começo-meio e fim. Nas tramóias que já foram escritas, nos doces e – talvez, nem tão honestos assim – deleites, por príncipes e hóspedes, singelos pseudônimos e cartas de amor, o tato sempre foi e sempre será o maior comparsa de “um dois”. Por todos os lugares que já insisti em te encontrar e pelas noites bem dormidas que tive. Pelas páginas que eu pulei. Pelas avenidas que tive medo de atravessar e pelo último (talvez fictício) bilhete que começo a escrever agora.

Eu quero esquecer-te, pela vida inteira. Perdoa-me se, com você, usei apenas minha pele e não minha insanidade. Perdoa-me por ter aberto suas gavetas, tentando encontrar mais pertences seus. Perdoa-me não ter te ajudado a escrever pequenos versos em um arcaico. Perdoa-me não ter levado aquela última taça e também aquele último vinho. Perdoa-me por não ter sido um desenho para você chamar de seu. Perdoa-me por não ter desaparecido nos momentos mais adequados, nas horas mais indicadas e naqueles segundos que deveriam ter sido de puro e sóbrio silêncio. Perdoa-me por ter escrito cartas. Perdoa-me por ter te escolhido. Perdoa-me (com razão) por não me ter feito parede: firme e rígida. Perdoa-me:foi você. 

"e há dias em que nada faz sentido"

Das mortes que não devemos ter medo (.)

Antes do segundo tempo da aula começar, a professora resolveu nos apresentar uma exposição em slides, a fim de que nós refletíssemos a respeito do que aquelas tantas “lâminas” tinham a dizer. A trilha sonora era de tenores italianos. As palavras, de um português, PessoA. O texto falava de morrer, de morte, de vida, de viver, de renascimento e de vir a ser um novo outrem depois de um assassinato particular, muito bem planejado

E assim fomos. Acima de qualquer suspeita, ela nos lera o texto com alma viva. E as palavras nos diziam uma realidade que até então nos era particular e, de uma maneira mais displicente, era simplesmente figura ativa de nossas inconsciências. Meus olhos seguiram as letras que apareciam na projeção, já buscando o fim – mas não porque já estava eu fatigada, não. Buscava, eu, uma seleção pessoal de justificativas, para fazer daquelas palavras mais que claras e vívidas em minha racionalidade. E sim, mantra peculiar. 

O texto falara de morte. Em figuração mais fixa: evolução. Sim. Sintetizando a narrativa, o autor afirmava que, para que você alcance para além das escolhas, e destas, sua concretude, é necessário um processo evolutivo – mais do que do ser, da alma. Assim colocado, para a realização desta, é preciso MORRER. 

Conhecer a morte pode ser impensável para muitos. Motivo de espera para outros. E há quem a espere com meio copo de expectativa. Contudo, morrer é preciso; e reviver, essencial. Pelas mais diversas razões – figuradas ou não –  fazer uma passagem, atravessar uma ponte, uma estrada, uma reta ou apenas pensamentos e algumas insanidades, é preciso. Deixando pedaços e capas para trás. É preciso estar disposto a encontrar a morte vestida de branco, com flores nas mãos e de cara lavada. Nítida.

E é quando você vai para a janela, querendo encontrar lá ao longe, a chance sucessiva da esperança: de convencimento superior e do extremamente necessário. E, é da janela que você inspira o perfume da morte...te chamando para a despedida. A despedida mais encontrada e, muito quem sabe, a mais certeira que se possa fazer.


terça-feira, 9 de agosto de 2011

O final da lista

Na noite de número um, em nossa (nova) casa, tudo nos parecia estranho - até mesmo porque aquele espaço aparentava [em último caso] um lar. Contudo, de todas as noites registradas antes do translado, naquele antigo cafofo, localizado na Rua Surdina, esta foi, sinceramente, a melhor. As que se seguiam eram nada mais, nada menos que as melhores depois da melhor. Pois muito bem, tudo seguira normal. O cheiro de tinta contribuiu bastante para atenuar a embriaguez na qual nós nos encontrávamos; que os jornais espalhados pelo chão eram convidativos; que o vento da rua realmente nos salvou durante toda a noite e que, ter dividido o velho divã com o Fred foi uma experiência que não merece bis. Na noite de número 23, tudo já estava tão em seus conformes que, se duvidarmos, aquelas coisas todas espalhadas pela sala saberiam voltar direitinho para seus devidos lugares. A nossa sintonia prosseguiu com muito êxito, até a noite do dia 35. Eu já tinha visto uma garrafa cair no chão e espatifar-se por inteiro, mas, uma garrafa voar em direção à parede ou até mesmo uma "pessoa qualquer", eu nunca tinha presenciado. Passou, assim como a noite 37, a de número 45 e assim por diante. Na noite de número 50 eu estava longe, do outro lado do país - certamente o Fred deve ter ocupado meu lugar na cama. Nas noites 80, 81 e 82 você atravessara o Atlântico e eu fiquei com a companhia daquele "lindo" carregador de botas, nosso Fred. Nas noites de 124 a 130, passamos bem mais que juntos, passamos bem mais que dois....nos perdermos nestes sete dias. Na noite 200 teve chocolate com morango. Na 201 teve "Moulin Rouge" e "Cabaret" na 202. Na 203 nem vou dizer qual o remake que seguimos. E toda noite tínhamos uma história para contar. Na noite 220, Santa Claus chegou tarde. E toda noite era algo. E toda a noite éramos alguém. Mas, na noite de número 620 teve eclipse ao contrário....E já não mais foi preciso apagar o abajour. Foi.