Eu não sei se isso é legal, sabe? mas eu sempre fui de me
apaixonar. Acho que me apaixonei demais nessa vida – ou acho que. Mas, bem mais
que me apaixonar pelo cara da balada ou pelo amigo que era da faculdade, eu me
apaixonei pelas histórias que eles traziam. E isso, sim, acho que tem um “q” de
paixão de verdade.
Eu queria tanto fazer parte daquelas histórias, sabe? Queria
ter um espacinho, ter um pouco de cena, fazer linhas e ser lembrada. Eu queria
que aquelas histórias se unissem com a minha, entende? Porque eu acho que
quando se gosta de alguém, se deve abraçar a bagagem desse alguém junto. Eu queria
ter ficado. Daria tudo para ter ficado, e faria tudo outra vez, para tentar ter
ficado. Não, não é carência. Nunca foi carência. É porque quando se gosta, se
gosta, e era“o começo do fim das nossas
vidas”: aproveitaríamos. E eu queria ter tido o começo, primeiro; não o fim. Porque sempre
acreditei nesses lances de amor...afinal de contas: o mundo só existe em virtude de um amor primeiro.
Quando eu estava de mãos dadas com minhas paixões eu quis
histórias reais, não coisas do cinema. Minha vida não é um filme. Será. Ela
ainda não acabou – eu ainda não morri. Efetivamente. Cada fim foi um recomeço e
eu repeti a fita umas mil vezes aprendendo de verdade só duas partes dela. E
mais duas na seguinte. E mais duas no que veio depois e assim por diante.
Quando eu estava de mãos dadas com minhas paixões eu só queria bons amores:
daqueles que apertam sem amarrar, aqueles que quebram copos, viram dias em
silêncio, mas que oferecem colo, braço, perna e coração. E até lágrimas, caso fosse necessário.
Eu queria amores que conversassem. Olho no olho. Mãos com
mãos. “O meu cheiro no teu travesseiro”. O teu amor na minha saudade. A minha
saudade no teu reencontro. O meu abraço na tua vida. A minha dor nos teus
olhos. Minha felicidade na tua esperança. Queria amor desses normal. Que fazem companhia; que dizem que é hora de voltar, ir embora, chegar, correr, morrer. Queria um amor para ser aceito em paz com seus defeitos de fábrica, mas que me obrigasse a ler manuais. Ver palestras. Pedir ensinamentos.
Mas nada deu certo até agora. E meu amor não deixou saudade.
Porque, na certeza de dias melhores, ainda não deu tempo
dele chegar "nesse lugar que ninguém mais pisou".