quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

"Nas cordilheiras da ilusão...."

"Fiquei aos poucos sem você...
Deixou marcado o seu sorriso
Que não me deixa te esquecer..." Me leva, Diogo Nogueira

Ele voltou para a gafieira justamente na tentativa de encontrá-la. Sentou-se e chamou pelo garçom. Pedira duas tulipas do tradicional chopp de samba. Pedira dois, porque, nos últimos três dias, assistira três filmes de homens que recordavam o passado na mesa de bar. TODOS eles pediam uma “dose”, “uma tulipa”, “uma bebida” para alguém invisível. Ele copiara. Depois de algum tempo...passou os olhos pelo salão...pelo camarote: ninguém importante. Ninguém sem atenção. Foi então que resolvera conversar com a taça de chopp que pedira.  E foi um desabafo daqueles, digno de olhares, não piedosos, mas de certo orgulho: havia ainda alguém que se entregara às ilusões. O garçom passou e reparou que a outra tulipa ainda permanecia cheia e esquentando. Ele parou e perguntou ao cliente se ele não gostaria de trocá-la. Ele apenas o entreolhou, com olhar seco, de quem não queria sugestões. O garçom, acostumado a presenciar as mais diversas cenas daquele lugar, pegou sua redonda bandeja e dirigiu-se ao fundo do bar. Por um segundo qualquer, alguém passa pelo homem solitário: exatamente com o mesmo perfume Dela; exatamente com o mesmo balançar de cabelos Dela. Ela parou e virou seu corpo para a mesa dele: ELA. Reparando que havia sobre a mesa um convite para sentar-se, assim o fez. Ele, não mais a entreolhá-la, mas olhá-la com todos as pupilas que Deus lhe dera. Sorriu. Sorriram. E foi assim toda a noite - como coisas de quem se amam. Até que, lá pelas tantas da madrugada, o garçom retorna: "Senhor, desculpe-nos, a casa vai fechar." "Tudo bem. Ela não veio mesmo.", disse.

"Tudo nasceu de brincadeira
Nas cordilheiras da ilusão..."


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