Ao som de House of Shem, Think about you
Eu preciso
confessar que esse medo que você tem em dar um passo “além-mar” às vezes me
assusta. Mas não me detém.
Aos
cinco anos de idade, quando meus pais me abandonaram para viajar pelo mundo e
curtir seus últimos anos na casa dos
vinte, eu tive de me virar. Vovó era jovem, mas, mesmo assim, eu estava só e
aos cinco anos eu me vi obrigado a ser homem 4 vezes mais.
Meus
pais não estavam aqui quando aprendi a ler com proficiência; minha mãe não estava
aqui para me ajudar quando meus dentes caíram; papai não me levou para o
futebol e também não pude contar a ele minhas primeiras aventuras. Quando
estava na casa dos dezessete, eles não comemoraram quando passei para a
faculdade. Eu não tive o privilégio. Esse privilégio.
Tive
outros – talvez mais intensos e mais reais, mesmo que difíceis.
Eu trabalhei
cedo. Eu viajei por aí cedo. Conheci gente e fui conhecido também. Daí que
nesse embalo da vida vivi situações mais íntimas e tive que tentar construir
muita coisa em conjunto, sentir o gosto da derrota amorosa muitas outras vezes
e querer tentar acertar em outras tantas. Eu me acostumei. Já faço parte deste
organismo. Já rascunhei uma cartilha e não tenho medo em acrescentar novas
informações e eliminar páginas.
Eu criei
coragem com o tempo. Fui me tornando homem com vontade. E nessa vontade perdi o
medo: o de viver, o de me entregar e o de proteger quem vier comigo. Acredito
que isso seja fruto da rejeição do passado, do trauma, em partes, superado e da
vontade enorme em ter uma história mais cuidadosa do que a que tive anos atrás.
Por
isso eu espero você. Eu entendo você. E pretendo não te julgar. A única
exigência que faço é: não solte a minha mão. Não me impeça de muita coisa,
apenas confia em mim. Eu não sou o mesmo cara de cinco anos de idade. Não fica
assustada, não entre em desconformes e não me tenha como inimigo. Apenas
confia. E me deixa ser algo teu. Não precisa temer a vida, sei alguns macetes. Me
segura forte e
"Vem
que no caminho eu te explico."