terça-feira, 28 de junho de 2011

Justa causa

  
O maior teste para eles dois transcedia qualquer divisão de um bom pote de Nuttela. As noites poderiam ter várias destinos; váias direções e uma infintude de páginas. E eles (antes de mais nada) optaram por cosequências recíprocas a favor de uma ideia arriscada, porém, muito tentadora. E por muitas e muitas noites um fez companhia ao outro, seguido de alguma assinatura de Rimbaud ou, possívelmente, qualquer Freud estendido na varanda. E o pote de Nuttela ainda estava lá - gelado. Pelo sim e pelo não, era melhor que ambos pudessem escrever algo em quatro mãos; meditar em duas mentes e retribuir-se em inúmeros acalentares. E era assim que os tantos poucos metros quadrados daquele sofá configuravam "uma saída para nós dois". O abajour bem que quis acompanhá-los, mas não deu. As noites eram longas deveras. E por todas as cenas nas quais ela teve de chorar, ele a olhou com aqueles olhos castanhos escuros, sem nada dizer e com todo o seu exercício paranormal, a teve em seu abraço, de modo que o medo da noite pudesse ser superado. E, concluindo todo o processo fílmico, ele quebrou "não-sei-quantas-janelas" devido ao ápice de seu desconforto. E ela catou caquinho a caquinho, sem arranha-lhe um traço. E, depois de mais uns centímetros de janelas quabradas, ele voltou para ela - pois sabia que ali haveria algo que o tornaria suficiente. E eles se compreendiam assim: no meio da noite; na metade do dia; com ranhuras ou sem Nuttela. O único desejo era um múltiplo de dois.

Nenhum comentário:

Postar um comentário